Gestores nacionais aquém dos ‘galácticos’

Para um cidadão comum, os salários dos cargos de topo nas empresas privadas em Portugal parecem estar numa escala fora de órbita. Mas os vencimentos dos gestores nacionais ficam ainda longe dos ordenados galácticos que algumas multinacionais proporcionam fora do país.

Gestores nacionais aquém dos ‘galácticos’

Não é preciso chegar a exemplos extremos dos Estados Unidos – na lista da Forbes com os maiores salários é comum encontrar gestores a ganhar várias dezenas de milhões por ano e o mais bem pago é John Hammergren, presidente da farmacêutica McKesson, que levou para casa 122 milhões de euros.

Na Europa, o banqueiro português Horta Osório ganhou no ano passado o direito a uma remuneração total de quase 16 milhões de euros no Lloyds – parte são prémios diferidos que vão ser pagos nos próximos anos. Já o presidente da Vodafone, Vittorio Colao, recebeu 12,5 milhões de euros em 2014. Bob Dudley, presidente da petrolífera BP, ficou um pouco abaixo: 11,8 milhões.

Escalas diferentes

Tal como o ordenado do melhor jogador do campeonato de futebol português não pode comparar-se ao vencimento de Ronaldo, pôr na mesma balança os gestores portugueses e estrangeiros é um exercício complexo.

Os níveis salariais praticados em Portugal são diferentes dos de outros países – até porque há áreas onde existem convenções e contratos colectivos de trabalho, como no retalho, por exemplo. Além disso, as posições em multinacionais no estrangeiro são de maior responsabilidade e têm uma escala diferente. Um estudo recente da CMVM mostra que os salários dos gestores têm mais que ver com a dimensão da empresa do que com os lucros propriamente ditos. E fora de Portugal a dimensão é enorme.

A Vodafone tem 424 milhões de clientes, mais de 40 vezes a população portuguesa. A BP está presente em 80 países – provavelmente mais do que todas as empresas do PSI-20 juntas. 
Pedro Rebelo de Sousa, do Instituto Português de Corporate Governance (IPCG), destaca que mesmo na Europa “não se observam padrões uniformes nestas matérias”. O IPCG não dispõe de dados que permitam fazer comparações.

Menos exposição ao risco

A consultora Hay Group frisa que, além dos níveis salariais, existem outras diferenças nas características dos pacotes retributivos nacionais para os internacionais. Salvaguardando os riscos de generalização, Rui Luz destaca que, face à Europa, a retribuição em Portugal é “significativamente” menos exposta ao risco. “Isto significa que a retribuição total contém menos proporção de retribuição variável – especialmente em variável de médio/longo prazo – em Portugal do que em média na Europa”.

Quanto às discrepâncias salariais dentro das empresas, o responsável lembra que a escassez de gestores em Portugal faz com que os salários de topo sejam mais altos face à média, para terem atractividade. O leque salarial antes de impostos entre uma função de um profissional qualificado e uma de direcção é de 4,9 vezes em Portugal, ao passo que em Espanha é de 3,8 vezes e na Alemanha 2,8 vezes. 

Na geração que está agora a passar o testemunho assiste-se a “uma elevada escassez de talento”, o que justifica esta maior generosidade salarial. Só na geração que agora começa a assumir responsabilidades se encontram pessoas com carreiras internacionais em organizações com dimensão relevante.

*com  Ana Serafim

joao.madeira@sol.pt

sandra.a.simoes@sol.pt