A disfunção revolucionária de Vasco Lourenço

Os militares de Abril não estarão amanhã no Parlamento, pelo quarto ano consecutivo, na comemoração do Dia da Liberdade. Vasco Lourenço justifica tal ausência com o “agravamento na violação dos valores de Abril”. E fala na necessidade de “uma ruptura democrática”, até porque “o Governo e o Presidente da República envergonham-nos todos os dias e…

Mas o tenente-coronel, no seu menosprezo pelas instituições da democracia e desrespeito pelo voto popular, vai ainda mais longe. Diz que “o primeiro-ministro é um mentiroso contumaz”, que “Cavaco Silva é pior que Américo Tomás”, que “o PS é um saco de gatos de várias facções a digladiarem-se por interesses – e não por valores”, para concluir que “assistimos a um retrocesso aos tempos da outra senhora”. Além destas postas de pescada, para utilizar uma apropriada linguagem de caserna, Vasco Lourenço recorre por sistema à oratória de pugilista e não se inibe de ameaçar, entredentes, com o recurso à força militar. “Fique claro que não nos fecham a boca nem amarram os braços”, “chegou o tempo de dar um estrondoso murro na mesa”, vem aí uma “forte contestação social com violência em pano de fundo”, “temos de ser capazes de expulsar os vendilhões do templo” e “existe hoje em Portugal uma legitimidade semelhante à que existia no 25 de Abril para que as Forças Armadas intervenham”. Vasco Lourenço, como alguns outros capitães de Abril mal adaptados à democracia, parece sofrer da síndrome da disfunção revolucionária: passa o tempo a sonhar e a prometer revoluções que nunca chegam nem se repetem.

Fique claro que temos todos uma inestimável dívida de gratidão para com Otelo Saraiva de Carvalho, Vasco Lourenço e os outros militares de Abril que tiveram a coragem de derrubar a ditadura em 1974 e nos devolver a respiração e a alegria da liberdade.

Só que, na sua serôdia casmurrice revolucionária, começam a parecer-se demasiado com a triste 'brigada do reumático' que tanto ridicularizaram há 41 anos. Os capitães de Abril são os autores, mas não os donos do 25 de Abril. E não têm qualquer tutela sobre as opções democráticas dos portugueses.

Este artigo de opinião foi publicado na edição impressa do SOL, no dia 24 de Abril

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