Brigada sem reumático

Estava o Vasco Gonçalves na primeira fila», detalha Manuel Rocha, sobre a vez em que a Brigada Victor Jara tocou no refeitório da Petrogal, num 25 de Abril, o último antes de a refinaria dar lugar ao Parque das Nações, local do encontro com o SOL. Agora sim, Arnaldo Carvalho recorda-se desse concerto que terá…

A edição, a cargo da Tradisom, é possível graças a uma campanha de recolha de fundos online. Para que a ideia saísse do papel eram necessários 7.500 euros, valor que foi mais que triplicado. «É um bolo de anos. Fizeram o bolo do qual nós apagámos as velas», comenta Manuel Rocha, que toca violino e bandolim na Brigada (no topo direito da fotografia). «A resposta do público sensibilizou-nos e quisemos dar-lhe um presente», acrescenta o percussionista Arnaldo Carvalho (na foto, o primeiro da segunda fila), a propósito da gravação das três músicas novas (dos Açores, sobre saudade; da Beira Baixa, com vozes femininas; e da Madeira, com «algum experimentalismo sonoro»). 

Neste caso foi o baterista Quiné Teles quem propôs os temas, mas não há regras estabelecidas, nem uma liderança. «O que tem custos terríveis ao nível orgânico, de produzir o que quer que seja. O Sérgio Mestre, um músico extraordinário que já morreu, tinha uma definição interessante da Brigada: 'Aqui está implantada a democracia chorona'. Para se avançar é terrível, é tudo discutido», diz Arnaldo Carvalho. O que também tem as suas vantagens: «Se calhar é o segredo desta longevidade, a forma de funcionamento colectivo. Não é um grupo de estrelas». Complementa Manuel Rocha: «O processo criativo nem sempre é um processo democrático, mas este grupo escolheu não ter dono. Não é bom, nem é mau, é assim». E quando saírem de cena, outros continuarão, asseguram. 

Resgate patriótico
De há uns anos a esta parte assistiu-se a uma revitalização do uso de alguns instrumentos e ao reaparecimento de outros como a gaita-de-foles ou a flauta de tamborileiro, e a Brigada, sem falsas modéstias, crê pelas vozes de Arnaldo e de Manuel que «teve importância no que foi o resgate de um som recolhido por Michel Giacometti, Armando Leça e outros, mas que não divulgado para o público em geral». Foi essa a proposta revolucionária do grupo, é essa a sua militância: «o resgate da consciência da pátria» em oposição à «fórmula dos ferrinhos e do acordeão» dos ranchos. A política criada por António Ferro foi «um constrangimento na passagem da música popular para a música de toda a gente», consideram.

Além de concertos em festivais em Portugal e Espanha, o ano de festa da Brigada completa-se com o lançamento de uma fotobiografia, ainda sem data de lançamento.

cesar.avo@sol.pt