Oposição russa acusa Putin de ter mais de 10 mil militares na Ucrânia

Um relatório que começou a ser elaborado por Boris Nemtsov, o opositor russo que em Fevereiro foi assassinado às portas do Kremlin, foi apresentado em Moscovo esta quarta-feira por um grupo de opositores do regime que acusa Vladimir Putin de ter investido mais de mil milhões de dólares numa guerra não assumida na Ucrânia.

Oposição russa acusa Putin de ter mais de 10 mil militares na Ucrânia

“Queremos dizer às pessoas que o Presidente da Rússia – um homem que controla armas nucleares e lidera um país enorme – está a mentir ao povo russo e a todo o mundo”, disse Ilya Yashin, um dos melhores amigos que Nemtsov, que participou na finalização do relatório.

O documento acusa o Kremlin de ter investido mais de 450 milhões de dólares numa força de seis mil ‘voluntários’ na Ucrânia, outros 560 milhões no apoio aos grupos separatistas do Leste da Ucrânia e ainda 157 milhões na manutenção e reparação de material militar.

Segundo os autores do relatório, entre os quais se encontram o ex-primeiro-ministro Mikhail Kasyanov ou os economistas Sergei Aleksashenko e Alfred Koch, o apoio aos separatistas pretende “criar uma vantagem negocial face ao Ocidente”, pois permitirá à Rússia negociar a retirada na Ucrânia em troca do fim das sanções económicas que se seguiram à anexação da Crimeia no início de 2014.

O texto inclui entrevistas com familiares de soldados russos enviados para a Ucrânia, alguns deles mortos em combate. E chega a avançar que o regime investiu mais de dois milhões de rublos (ou 35 mil euros) a silenciar as famílias que perderam membros no conflito.

Só desde o início do ano terão sido mais de 70 os militares russos mortos na Ucrânia, a maior parte deles à volta de Debaltseve, um ponto estratégico entre os dois principais bastiões separatistas cujo controlo foi disputado até aos minutos anteriores à entrada em vigor do cessar-fogo decretado no segundo acordo de Minsk.

Outros 150 soldados russos terão sido mortos nas batalhas que se deram no Leste da Ucrânia durante o avanço do Exército de Kiev que se seguiu à eleição de Petro Porochenko para a presidência do país. “O Governo russo deu apoio político, económico e pessoa, assim como assistência militar directa aos separatistas”, acusa o documento que garante ainda haver cerca de 10 mil militares russos do outro lado da fronteira.

Os signatários dizem ter encontrado a informação no material deixado por Nemtsov, onde se estava também um escrito onde este apelava “à realização do relatório” e à sua “divulgação em larga escala”, incluindo a “distribuição gratuita nas ruas”. Os seus amigos lamentam agora não terem sido capazes de encontrar uma editora que aceitasse tal desafio.

Mas este não será o único relatório a revelar a acção de Putin na Ucrânia: O Conselho do Atlântico, um think-thank com base em Washington, anunciou que nas próximas semanas publicará um documento que “dará provas irrefutáveis que expõem a largura e profundidade do envolvimento militar da Rússia no Leste da Ucrânia”.

“O relatório documentará o movimento das tropas russas dos campos de treino até à Ucrânia. E também demonstrará que muitos dos ataques de artilharia na Ucrânia tiveram origem na Rússia, ao mesmo tempo que examina o grande arsenal de equipamento russo que está nas mãos das forças separatistas”, avisa o comunicado do Conselho.