Yolo (You only live once)

Hoje decidi tratar aqui de um dos maiores flagelos para os adolescentes. De um flagelo maior que o acne quístico, que o primeiro buço nos rapazes, que a primeira menstruação nas raparigas e até mesmo maior que a mudança de voz.

Hoje falo-vos não da tão embaraçosa conversa das abelhinhas, mas sim do horror que é ir de férias com os pais entre os 11 e os 20 e tantos anos. No 2 de Maio, num pequeno passeio pela Baixa Pombalina, o atafulhamento de turistas era o já habitual para a cidade de Lisboa, a mais apetecível de todas as capitais europeias do momento.

Tomando a Baixa como um parque de diversões e tendo em conta que cada veículo pertence a um carrossel diferente, entre a 'molhada' que por ali circula, entre todos os anúncios a especialidades very tipical, buzinadelas, passinhos curtos e apressados – por causa das mesmas buzinadelas -, esgueirei-me entre animadores de rua e vendedores de noz-moscada-embrulhada-em-papel-celofane-para-parecer-haxixe, por entre todo esse espectáculo de cor e vi muito pouca alegria. Não porque Lisboa não tenha tudo para dar, mas porque o turismo deste fim-de-semana prolongado era familiar.

Ao contrário das habituais despedidas de solteira, bandos de galalaus gorduchos e encarnaduchos da ressaca, e pessoas que seguem guias, quer a pé, quer em goCar, quer em tuk tuk ou segway, como se fossem Deus, este foi um fim-de-semana para passar em família.

Com tudo o que isso implica para os filhos adolescentes: a morte da coolness. Este fim-de-semana assistiu-se a uma autêntica chacina nas ruas de Lisboa. Eu vi, com estes dois que a terra um dia há-de comer.

De repente, ali mesmo em frente à Confeitaria Nacional, um episódio que viria a comprovar isto de que vos falo hoje: um casal com dois filhos adolescentes estica o pau de selfie para uma fotografia. Os filhos, transtornadíssimos, tolhidos pelo horror que será aquela posteridade, arrastam-se para dentro do enquadramento com os piores semblantes da história e o ânimo de quem vai ser atirado à fogueira. Eventualmente a fotografia é tirada com sucesso e com os jovens lá dentro.

Nestes três dias de fim-de-semana grande, mais de metade da existência de qualquer um daqueles dois adolescentes mirrou. Mirrou muitíssimo pela incapacidade própria dos adolescentes em reconhecer nos pais qualidades superiores. Em reconhecer nos pais a vontade e o esforço de uns momentos 'diferentes' em família. Diferentes ao nível do cenário, porque nesta fase não há nada que se possa fazer sem headphones que não seja um calvário.

'Pá, yá', ser adolescente é assim. É odiar tudo porque, 'tipo, era bué melhor estar a fazer a cena contrária', porque, 'tipo, é uma seca andar com os velhos', porque os velhos são isso mesmo e acham que ir ao Hard Rock Cafe e andar com um pau de selfie são cenas que nos aproximam deles e isso é, 'tipo, errado'. E enquanto os pais se esforçam, parece que, gerações e gerações depois, ainda não aprenderam que, tipo, a cada esforço desses, o fosso criado entre ambas as partes é cada vez maior.

Os adolescentes não têm sentido de humor nenhum e também não querem ter e é mesmo assim, faz parte. Sejamos honestos: tem alguma graça tudo aquilo que nos acontece na adolescência? Não. Os adolescentes também não têm bom gosto, nem conseguem perceber que estas viagens que agora são uma seca vão resultar em posts de Facebook incríveis daqui a uns anos. Muito menos têm planos de dados nos smartphones, coisa que impossibilita que os seus lamentos seja 'ouvidos' nos smartphones dos amigos. Ironias à parte, ser adolescente é tão bizarro, estúpido e boring que o melhor era saltar essa fase. Só que não dá. E no entretanto, uma parte das tão desejadas férias curriculares inclui passeios horripilantes com os pais. Inclui momentos embaraçosos capazes de tornar a escolha em ir de férias com os pais versus a ir para um campo de férias, muito difícil.

E ao ver, no outro dia, nos rostos daqueles rapazes a angústia própria de quem não tem outro remédio, diria que só nos apercebemos do quão maravilhoso era ir de férias com os pais quando ficamos a saber o que a vida custa a ganhar, e como não iremos, tão cedo, mais longe do que à praia no carro de algum amigo, ou acampar nalgum festival de Verão.

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