A toca dos covardes

Há uns meses um amigo fazia a auto-estrada que liga o Porto a Lisboa quando, de repente, foi obrigado a fazer uma manobra perigosa, pois do autocarro que acabara de ultrapassar saiu um objecto voador identificado: uma garrafa de cerveja atirada por um elemento de uma claque de futebol. O autocarro foi mandado parar na…

Nos estádios ou pela televisão vemos a chegada das claques aos campos onde a sua equipa vai jogar e o cenário é parecido ao de uma guerra civil ou de uma intifada. Depois dos jogos, as claques deixam um rasto de vandalismo inacreditável. Tudo isto se passa há anos sem que alguém, exceptuando as polícias, se preocupe muito com o fenómeno.

No passado domingo o mundo inteiro pôde assistir a cenas idênticas ou piores. Em Guimarães, a claque do Benfica destruiu metade do estádio do clube da cidade e no final do jogo um polícia mais talhado para pertencer a uma claque envergonhou um país ao agredir de uma forma selvática uma família de adeptos encarnados. Imagens que correram mundo…

Mas o pior estava para acontecer, embora não se tenham registado casos de feridos graves, nem uma imagem tão simbólica como a do subcomissário que agrediu avô, pai e deixou os netos à beira de um ataque  de nervos. Juntar milhares de pessoas, fala-se em mais de 100 mil, num espaço sem a concordância da PSP, parece óbvio que tinha tudo para acabar mal. As multidões servem na perfeição de albergue de covardes que se sentem livres para espalhar o terror. Até pode ser que os arruaceiros que estragaram a bonita festa de celebração de mais um campeonato conquistado pelo Benfica não sejam adeptos que frequentam o estádio da Luz. Mas convém que as autoridades policiais tenham a possibilidade de interditar a presença de tais figuras nas proximidades dos acontecimentos desportivos. Será assim tão difícil olhar para o que se passa em Inglaterra onde os hooligans são obrigados a apresentarem-se nas esquadras em dias de jogo da sua equipa – não podendo, por isso, ir provocar distúrbios para o estádio?

As claques têm de perceber que vivemos num país democrático, mas há regras. Os meninos maus não podem partir tudo o que querem, sabendo que nada lhes acontece. Sejam do Benfica, Porto, Sporting ou de outra equipa qualquer.

P. S. Para quando a criminalização de dirigentes que apelam à violência com discursos inflamados nos seus facebooks?

vitor.rainho@sol.pt

Crónica originalmente publicada na edição em papel do SOL de 22/05/2015