Nóvoa não tem as competências específicas para o cargo de PR

Na propositura presidencial de Sampaio da Nóvoa, o que causa estranheza e alguma cogitação é o candidato só ter descoberto agora, aos 60 anos de idade, a sua veia para a intervenção política.

Todos nós desconhecemos o que Nóvoa pensou, ou de que lado estava, em momentos políticos cruciais da vida do país nestes 40 anos. Sabe-se que, logo a seguir ao 25 de Abril, jovem adulto com 19/20 anos, teve uns amigos na LUAR. E pouco mais. Nóvoa esteve com Eanes e o PCP a apoiar Zenha contra Soares, ou ao lado deste, nas decisivas presidenciais de 1986? Defendeu ou opôs-se, em 1998, a que Portugal substituísse o escudo pelo euro? Era a  favor  ou  contra  Jorge  Sampaio dar posse a Santana Lopes no Verão de 2004? Achava que Sócrates devia ter feito outra política e pedido ajuda à Europa e à troika muito antes de 2011 ou não? Nada se sabe, pois o passado político de Sampaio da Nóvoa é uma folha quase em branco. O que terá despertado, então, o seu repentino interesse pela actividade política – e logo ao mais alto nível, na Presidência da República?

É evidente que Sampaio da Nóvoa, como qualquer cidadão português maior de 35 anos, tem plenas condições para se candidatar a Belém. Mas a questão não é a de ter ou não o direito – que tem todo – de ser candidato. A questão é a de estar ou não habilitado para exercer a função. E Nóvoa não tem a mínima experiência da vida governativa ou partidária. Não conhece como se decide numa reunião do Conselho de Ministros, como se gerem os conflitos entre ministérios, como actuam os lóbis de pressão nos gabinetes, como funcionam os poderes locais ou as clientelas partidárias, etc. Ou seja, Nóvoa não adquiriu, até aos 60 anos, as competências específicas para o cargo. E não é um cargo qualquer.

Também qualquer um pode aspirar a ser piloto de avião. Mas poucos estão habilitados a sê-lo. Ninguém, aliás, se meteria num avião se desconfiasse da competência dos pilotos. Vítor Bento, que é um analista sagaz e clarividente da nossa vida social, económica e política, dizia há dias o seguinte: “A Presidência da República não é o local ideal para se perder a virgindade política”. É uma definição certeira para esta aventura extracurricular de Sampaio da Nóvoa.

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