‘As pessoas são muito facilmente enganáveis’

João Paulo Feliciano, o responsável pelas inscrições que cobrem, virtualmente, a fachada da Casa Serralves diz que foi apanhado de surpresa pelo «efeito despropositado» que a divulgação da sua instalação causou durante a tarde de ontem e que, mesmo quando não se quer, «as pessoas são muito facilmente enganáveis».

através das redes sociais foi divulgada a imagem da instalação, que foi quanto bastou para que se disseminasse o boato de que a fundação serralves teria sido vandalizada. entre alguns que sabiam que se tratava de uma instalação e outros que duvidavam que tal fosse possível, havia quem acreditasse e se indignasse com a suposta vandalização.

calma. o edifício da fundação de serralves não foi alvo de vandalismo, mas sim de uma intervenção artística que utiliza a tecnologia da realidade aumentada, o que significa que a ‘olho nú’ as paredes cor-de-rosa do edifício permanecem intactas.

para visualizar a ‘walls to the people’ é necessário, em primeiro lugar, ter um telemóvel android, iphone, ipad ou tablet, depois descarregar, gratuitamente, a aplicação ‘serralves ar’ e, por fim, apontar a câmara do aparelho para a fachada do edifício.

joão paulo feliciano explica que a imagem que foi divulgada na internet e que fazia parte da estratégia de comunicação da instalação aos órgãos de comunicação social foi trabalhada em photoshop, tem, por isso, um realismo muito superior ao que, efectivamnte será experienciado pelos visitantes da casa de serralves.

o artista afirma que ter tomado tal fotografia como verdadeira foi um «equívoco que gerou um ‘sururu’» e que «a peça foi vista sem ser percebida».

«as pessoas associam sempre a arte contemporânea ao bonito» e estas inscrições, recolhidas em portugal ao longo dos anos, «são disparatadas», algumas «anedóticas, despropositadas, e imediatas, outras subversivas ou artísticas».

feliciano, que se recusa chamar-lhes graffiti, sublinha que se trata de «inscrições no espaço público», registos recolhidos por ele ao longo dos anos e que agora aproveitou para montar «um projecto brincalhão, com um lado anedótico e quase disparatado».

as inscrições de ‘vende-se’, ‘roubar sabe bem’ e ‘sorri’ são uma «experiência despretensiosa» do artista das caldas da rainha que nos últimos anos tem aliado a arte à tecnologia nos seus trabalhos. 

com este projecto pretende «testar a tecnologia de realidade aumentada», que é ainda «demasiado rudimentar para uma instalação mais formal», bonita e complexa.

catarina.palma@sol.pt