Só uma coisa choca nos cartazes

Há uma semana que o país ouve falar de cartazes. Políticos, comentadores, jornalistas e fóruns populares peroram sobre estética, ‘tiros nos pés’, marketing, publicidade e de tudo o que, teoricamente, menos deveria interessar. Pequenas coisas e folclore que tornam os debates políticos parecidos com as mesas-redondas de futebol. Por vezes, preciso de um minuto para…

Não desvalorizo o que se tem dito. O marketing político está pelas ruas da amargura. É claro que quando se envelhece tudo nos parece pior, talvez seja esse o meu problema – o termo de comparação passa a ser o da nossa juventude em o mundo se pinta de outras cores. Mais do que compreensível. Descontando o pecado original, e com todos os esforços de distanciamento, não é possível encontrar uma campanha de cartazes e imagem tão mal amanhada quanto esta. Tudo tão medíocre, tão feio, tão poucochinho. E tão mal organizado – aí com o PS na vanguarda do amadorismo.

No entanto, entre todos os pormenores há um detalhe relevante. Já reparou que os cartazes não têm grandes diferenças? Os do PS podiam ser os da coligação, os da coligação poderiam ser os do PS. Mudava-se uma palavra aqui, outra acolá, e já estava. E qualquer uma das imagens polémicas, de um lado e do outro, podia também ser um cartaz de uma igreja evangélica, da IURD ou de qualquer outra organização de transcendência populista.

Influência dos brasileiros? Talvez. Mas influência certamente de uma certa ideia que defende que a política tem de conquistar as pessoas onde elas existem. Num país/mundo onde há mais gente em grupos de auto ajuda, igrejas, voluntariado, escutismo, ecologia ou direitos dos animais do que na política, os partidos são impelidos a acreditar que têm de se adaptar a um mundo em que os cidadãos precisam mais de milagres do que de políticos. Voltarei ao tema.

A esquerda e a direita tendem a morrer enquanto conceito nascido na Revolução Francesa. O triunfo do capitalismo, com a consequente globalização, trouxe uma uniformidade na forma como se ama, consome ou pensa. Quase tudo no nosso tempo é multiplicado por cliques, impressões, bytes, tweets. Bebemos a vida como se fosse uma cerveja gelada, quando fica morna já não a desejamos. Preferimos passar para outra acabada de tirar. E assim sucessivamente.

A política e os políticos acompanham o tempo. Mesmo os que não acreditam neste modelo (à direita e à esquerda) sacrificam as convicções à necessidade de não arriscarem parecer ser tontinhos a tentar derrubar moinhos de vento. Tudo é vendido como definitivo. Mas a palavra ‘definitivo’ é tão transitória como qualquer outra. As ideias que nos deveriam acompanhar no nosso percurso valem o mesmo que o antigo emprego para a vida: nada. É isso que choca nos cartazes – o serem vénias a um tempo de desagregação e de morte das diferenças. E a Política deveria ser outra coisa. Era isso que deveria ser discutido. E merecer a nossa reflexão.  

luis.osorio@sol.pt

Crónica originalmente publicada na edição em papel do SOL de 14/08/2015