Ópera-prima

No domingo dá-se a estreia absoluta em Portugal de uma ópera com 390 anos. La Liberazione di Ruggiero dall’isola d’Alcina é mais do que uma curiosidade dos primórdios do Barroco. É a primeira ópera composta por uma mulher – e que mulher.

Ópera-prima

A florentina Francesca Caccini (1587-1641), também conhecida como La Cecchina, filha do compositor Giulio Caccini, é a autora desta commedia in musica. “É uma herdeira do espírito humanista. Tinha um interesse universal pelas artes. Além de compositora era intérprete, arranjava instrumentos, etc.”, comenta André Cunha Leal, programador doCentro Cultural de Belém, onde a ópera é levada ao palco do Grande Auditório a partir das 17h de domingo pelo Huelgas Ensemble, acolitado pelo Ludovice Ensemble e pelo Officium Ensemble.

La Liberazione nasceu de uma encomenda por ocasião da visita do príncipe Vladislau, herdeiro da coroa polaca, a Florença, à corte dos Médicis, para a qual Francesca Caccini trabalhava. O libreto, de Ferdinand Saracinelli, é baseado no romance Orlando Furioso, de Ludovico Ariosto. Conta a história de Ruggiero, um guerreiro sarraceno aprisionado numa ilha pela malvada Alcina, e em seu auxílio vai a fada Melissa. Como explica o maestro Paul Van Nevel no programa da ópera, Alcina representa os turcos que tinham sido derrotados pelo exército polaco. E a fada boa era a grã-duquesa da Toscânia, Maria Madalena de Áustria.

E a qualidade da ópera? “Muito interessante”, classifica André Cunha Leal. Para o diretor artístico da Huelgas Ensemble é um “marco notável da música italiana da primeira metade do século XVII”.

cesar.avo@sol.pt