A lanterna mágica

Foi no final deste verão. Andava a passear por uma rua comercial da cidade de Tavira quando vi numa montra algo que me deteve. Aconchegada numa caixa preta que exibia letras futuristas, era o tipo de coisa que não destoaria numa série como o CSI. Só tinha dois problemas: o preço excessivo e o facto…

Que objeto foi esse que despertou a minha cobiça? Podem não acreditar, mas tratava-se de uma simples lanterna.

Na verdade é uma paixão antiga. Lembro-me de há uns bons 20 anos ter visto numa loja de ferragens das Amoreiras uma lanterna americana, de aspeto sólido e bons acabamentos, e de não ter descansado enquanto não a levei para casa. Desde então venho colecionando todo o tipo de luzes portáteis (sobretudo luzes de leitura) – a pilhas, recarregáveis (via USB) ou até auto-suficientes (com um dínamo). Nunca me parecem de mais. Algo nestes objetos me atrai tal e qual como a luz atrai os insetos.

Longe vão os tempos em que as lanternas estavam na moda – na altura chamávamos-lhes ‘pilhas’. Quando eu era miúdo, quase não havia iluminação pública no aldeamento onde passávamos férias e as pessoas mais previdentes não saíam de casa de mãos vazias. Mesmo que fossem apenas ao café ou a casa do vizinho, lá iam elas, como um guarda noturno, de lanterna em riste a iluminar o trajeto. Eu ficava encantado, pois a presença daquele objeto deixava no ar uma certa sensação de aventura.

Das várias que a nossa família teve ao longo desses anos, a mais notável foi uma lanterna multifunções em forma de prisma. Numa das faces do prisma havia uma lâmpada comprida fluorescente; noutra uma luz cor de laranja que piscava como o pisca-pisca de um carro. Acreditávamos ingenuamente que, em caso de acidente ou noutra emergência, aquela lanterna poderia salvar-nos a vida.

Nos dias que correm, em que vivemos em ambientes saturados de luz a qualquer hora do dia ou da noite, as lanternas tornaram-se utensílios obsoletos. Mas talvez isso ajude a explicar o seu apelo, pelo menos no meu caso. Não é o medo do escuro que me leva a desejá-las. Pelo contrário. O que me atrai é o facto de as lanternas evocarem os ambientes escuros de outros tempos. Em que as estrelas brilhavam com mais intensidade e não havia tanto ruído luminoso a perturbar o silêncio noturno. 

jose.c.saraiva@ionline.pt