‘O salazarismo foi uma forma de fascismo’, diz historiador

O historiador francês Michel Cahen, referência mundial no estudo do colonialismo português, encontra-se no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, para investigar o Estado Novo em Portugal e nos antigos territórios coloniais. 

Cahen admite situar-se entre a minoria de historiadores que acreditam que o salazarismo foi um regime do tipo fascista. "O salazarismo foi uma forma de fascismo", avalia, em declarações à agência Lusa no Instituto de Ciências Sociais (ICS), que o acolhe para dois anos de investigação, onde trabalham historiadores, como António Costa Pinto e Rui Ramos, que publicamente se têm distanciado da ideia de um fascismo "à portuguesa".

"Para mim, o fascismo num país pobre e atrasado como Portugal, não poderia ser igual ao da Alemanha, rica e industrializada, dos anos de 1940", contextualiza Cahen.

No entanto, "a característica mais importante dos regimes fascistas não é a personalidade do chefe, mas o papel estrutural do aparelho de Estado". E, em relação a este, na ótica do académico, Portugal seguiu o modelo fascista.

"O facto de o Estado ser nacionalista, imperialista e corporativista são características fascistas", considera o historiador.

Nas colónias, por outro lado, a situação foi distinta. O investigador francês, que na sua análise conjuga a História, a Sociologia e a Ciência Política, afirma que, "com base na mesma metodologia, se, por um lado", considera "que em Portugal houve fascismo, nas colónias não foi o caso".

Argumentos não faltam ao académico. "Se, na metrópole, o totalitarismo pretendia enquadrar a totalidade da vida dos cidadãos, nas colónias havia dois sistemas legais completamente diferentes: um para portugueses e assimilados e outro para os indígenas". Neste cenário, o historiador conclui que "não houve o colonial-fascismo".

Michel Cahen, investigador do Instituto de Ciências Políticas de Bordéus, antigo diretor-adjunto do centro francês de investigação Les Afriques dans le monde e cofundador da revista Lusotopies, de análise política e social, é considerado um autor de referência no estudo do período colonial e pós-colonial na África de língua portuguesa.

Nos últimos anos, a par do trabalho em França, foi professor convidado da Universidade de São Paulo, Brasil.

A residência em Portugal, de acordo com a sua página no sítio na internet do Instituto de Ciências Políticas de Bordéus, tem por tema "Fascisme, colonialisme, colonialité dans l'empire portugais d'Afrique au xxe siècle"

A escravatura e os trabalhos forçados nas antigas colónias portuguesas em África, a "questão do salazarismo", sob o signo do império colonial, as lutas armadas de libertação e as questões pós-coloniais são temas de investigação de Michel Cahen, desde a década de 1970.

"Os Bandidos. Um historiador em Moçambique" (Gulbenkian, 2002), "La nationalisation du monde. Europe, Afrique, l'identité dans la démocratie" (Paris 1999), "Ethnicité politique. Pour une lecture réaliste de l'identité" (Paris, 1994) e "Cidades na África lusófona" (Paris, 1989) são alguns dos títulos publicados pelo historiador.

Lusa/SOL