Os lugares da revolução

Louis Léon Théodore Gosselin (1855-1935), conhecido por Georges Lenotre, foi um historiador diferente da revolução e da contra-revolução. Considerado o ‘papa da petite histoire’, era um obcecado da documentação, da memória privada, da investigação, dos lugares e detalhes dos familiares e dos próximos dos protagonistas. Acreditava na primazia destes pequenos elementos ‘secundários’ para a reconstrução…

Por isso, em Paris Révolutionnaire (Perrin, Paris, 2014), Lenotre não nos conta os contados e recontados episódios da revolução – a queda da Bastilha, a noite de Varennes, os massacres de Setembro, a decapitação do Rei –, coloca-se antes como um repórter do quotidiano da revolução. Ocupa-se da topografia da Paris da revolução e dos seus lugares-chave. Donde vinha e onde morava Robespierre? Como eram as Tulherias antes, durante e depois do 10 de Agosto, quando passaram de Palácio Real a sede da Convenção? Como era a Abadia de Saint German-des-Prés, lugar do massacre dos padres católicos e dos outros suspeitos ali detidos?

Lenotre evoca, a propósito, outras histórias, como a do Salon de madame Roland, num palácio da rue Neuve-des-Petits-Champs, onde a grande egéria dos Girondinos e os seus amigos procuravam imitar espartanos e romanos, antes de acabarem na guilhotina. Ou a de Charlote Corday, a jovem católica de Caen que partiu em 9 de Julho de 1793 de diligência para Paris com o propósito de livrar a França de Jean Paul Marat, o tenebroso editor e redactor de L’Ami du Peuple e grande inspirador dos radicais. Marat vivia na rue des Cordeliers, com uma irmã e uma companheira, Simone Evrard. Charlote foi lá duas vezes: primeiro de manhã e depois ao fim do dia. Marat, que a não recebera de manhã, recebeu-a por fim na casa de banho, dentro da banheira, onde costumava despachar. Charlote matou-o com um facalhão acabado de comprar para o efeito e foi guilhotinada poucos dias depois. Ia inspirar pintores, dramaturgos e poetas como heroína da contra-revolução. Os destinos da irmã e da amante de Marat – e até o da banheira – não são esquecidos por Lenotre.

Outro protagonista incontornável da História e das histórias de Lenotre é Georges-Jacques Danton, nascido em Arci-sur-l’Aube, morador em Paris na Rue de la Tixeranderie e ministro da República depois do 10 de Agosto, a viver num palácio da Place Vendôme. Danton, o grande orador da Montanha, o inflamado tribuno republicano, recasou-se, já viúvo, com uma adolescente católica, Louise Gily, que lhe exigiu que se confessasse e que a boda fosse clandestinamente abençoada por um sacerdote refractário, o padre Kéravenan, mais tarde pároco de Saint Germain-des-Prés.