Líbia poderá ser ‘novo bastião’ do grupo Estado Islâmico

O ministro dos Negócios Estrangeiros líbio advertiu que a Líbia poderá ser “o novo bastião” do grupo extremista Estado Islâmico (EI) e pediu à comunidade internacional que inclua o país na luta contra o movimento.

Numa entrevista à agência noticiosa francesa na terça-feira à noite, Mohamed Dayri afirmou que o Governo líbio tinha "informações fiáveis de que o comando do EI ordena aos novos recrutas que se dirijam para a Líbia, e não para a Síria, sobretudo depois dos bombardeamentos russos" que visam o grupo desde o final de setembro. 

Em Paris, Dayri condenou os "horrendos atentados terroristas do EI", que mataram 129 pessoas na sexta-feira, na capital francesa, e advertiu que o grupo 'jihadista' está a reforçar a presença na Líbia.

"Pedimos, com a França e outros, uma ação internacional e uma verdadeira determinação contra o EI, na Síria e no Iraque, mas também na Líbia, porque receio que a Líbia se transforme, num futuro próximo, no próximo bastião do EI", avisou o ministro do Governo reconhecido pela comunidade internacional.

A Líbia mergulhou no caos com o fim do regime de Muammar Kadhafi em 2011. Duas autoridades políticas lutam pelo poder desde o ano passado, uma com sede em Tripoli e outra, única reconhecida internacionalmente, no leste do país, em Tobruk.

O ministro disse que o número de combatentes do EI na Líbia se situa "entre os quatro e os cinco mil", sendo os maiores contingentes compostos por tunisinos, sudaneses e iemenitas.

Dayri congratulou-se com a operação liderada pelos Estados Unidos, que anunciaram a 14 de outubro ter bombardeado pela primeira vez o EI na Líbia, eliminando o iraquiano Abu Nabil, que apresentaram como líder do grupo extremista no país.

Mas o ministro afirmou que Abu Nabil, ou Wissam Najm Abd Zayd al Zubaydi, era o líder do EI na região de Derna (leste) e não à escala do país.

"Estes ataques são necessários mas insuficientes. A ameaça sobre a Europa é grande", acrescentou, sublinhando as relações entre os 'jihadistas' na Líbia e na Europa, do outro lado do mar Mediterrâneo.

Dayri lembrou que um marroquino e um dos presumíveis autores do atentado no museu do Bardo, em Tunes (21 turistas mortos em março), terá chegado na primavera a Itália, a bordo de embarcações clandestinas de migrantes que saem da Líbia.

O ministro acrescentou que o tunisino responsável pelo massacre, a 26 de junho, de 38 turistas num hotel de Port El Kantaoui, recebeu treino na Líbia. Os dois atentados foram reivindicados pelo EI.

Dayri sublinhou que o grupo extremista já controla a cidade de Syrte (leste) e está presente em várias regiões como Derna e Benghazi (leste).

"Ajdabya, no leste, pode vir a ser o novo reduto do EI", avisou, explicando que uma "série de assassínios de imãs salafistas e de responsáveis do exército" pelo EI parece preparar o terreno para este avanço.

Questionado sobre informações de um eventual avanço do EI para o sul do país, o ministro não confirmou, mas sublinhou que os "estreitos laços entre o Boko Haram e outros movimentos terroristas na zona do Sahel, por um lado, e o EI, por outro, já estão estabelecidos, uma vez que o exército líbio deteve, há um ano, em Benghazi, elementos do Boko Haram".

O Boko Haram é um movimento terrorista que atua principalmente no norte da Nigéria.

Para o chefe da diplomacia líbia, a comunidade internacional não pode exigir uma solução política na Líbia antes de passar à ação "dado o perigo crescente que representa o EI".

O novo emissário da ONU para a Líbia, o alemão Martin Kobler, assumiu o cargo na terça-feira, sublinhando a sua determinação em conseguir que os dois governos líbios formem um executivo de união.

O espanhol Bernardino Léon, anterior emissário da ONU, tinha apresentado a proposta de um governo de união a 09 de outubro, que não foi aprovada nem pelo Congresso Nacional Geral de Tripoli (não reconhecido pela comunidade internacional), nem pelo parlamento de Tobruk.

Lusa/SOL