Da Coreia, com ritmo

Lollipop 2ne1 ft. Big Bang. Enter. Like. Partilha.

Pode parecer um parágrafo estranho, mas foi assim que Bruna Reis começou por se interessar pelo K-Pop – ou música pop coreana, para os leitores que não têm adolescentes ou jovens adultos em casa. Em menos de nada, este simples enter e esta inocente visualização fez com que o YouTube lhe recomendasse listas de reprodução inteiras de cantores e grupos de pop coreano. “No fundo é uma alternativa mais exótica no panorama musical ocidental”, tenta assim explicar o que tem este ritmo de tão especial, que já há cerca de cinco anos invadiu, quase totalmente, os seus aparelhos tecnológicos. “A música é muito dinâmica e cativante, os artistas dançam de uma forma muito coordenada e um videoclip de três minutos, se for preciso, tem mais produção que um filme de Hollywood. E os artistas são muito atraentes, portanto, às tantas estamos a ouvir e a ver algo onde tudo é bonito”.

Aquilo que era uma simples curiosidade quase se tornou uma espécie de estilo de vida para Bruna. Juntamente com o ritmo e letras coreanas, que até há bem pouco tempo quase não entendia, surgiu o gosto pelas coreografias que estes ídolos fazem nos videoclips, tendo criado em 2011 um grupo de dança. Os shorts e as sweatshirts com os logótipos e nomes dos grupos preferidos impuseram o seu lugar nas gavetas mais acessíveis da sua cómoda. E como era importante perceber o que estava a ser dito nas músicas, inscreveu-se em aulas de coreano e chegou a completar os primeiros níveis. “Aprendi algum vocabulário, os tempos verbais mais básicos, e o alfabeto Hangeul”, diz com um sorriso orgulhoso. A sua palavra preferida? “Ppang. Significa ‘pão’ em português”, escreve no caderno desta interlocutora  com os carateres coreanos, explicando que cada um corresponde a uma letra pronunciada. “Nesse sentido, é como o nosso sistema linguístico”, diz, como se fosse realmente fácil para o comum dos mortais.

E Hallyu, sabe o que significa? É a palavra coreana equivalente a Korean Wave, que dá nome a este fenómeno que se observa um pouco pelo mundo inteiro – e ao qual já é impossível ter passado despercebido. Mas desengane-se se pensa que o fascínio começou com Gangnam Style de Psy, cuja dança do cavalinho imaginário quase ‘crashou’ o YouTube com tantas visualizações. É que esta onda não inundou Portugal só este ano: “Penso que o Psy deu mais visibilidade ao K-pop para quem ainda não o conhecia porque isto tudo começou antes de 2010”, assegura Jin Sun Lee, funcionária da secção da cultura da Embaixada Coreana em Portugal, que desde 2012 tem organizado o K-Pop Festival. Não é assim tão surpreendente se pensarmos que o Governo deste país investiu, só em 2005, mil milhões de dólares na cultura pop, que se alarga aos dramas (novelas), reality shows, e até à gastronomia.

“Nestes últimos anos recebo emails e telefonemas de jovens que me perguntam onde podem aprender a língua, se existem bolsas de estudo para tirarem os cursos na Coreia. O número de visitantes da biblioteca da embaixada também aumentou muito”.

Cultura à distância de um clique

Mas a que se deve este culto? “Sendo eu coreana, acho muito curioso e eu própria me questiono sobre isso. É uma cultura tão distante e mesmo assim temos jovens a querer trabalhar e viver lá”. Mas o que os investigadores têm dado como facto adquirido é que a evolução das redes sociais é a principal responsável por este sucesso: “Não é preciso gostarmos da Onda Coreana para usarmos estes meios, mas usá-los significa estarmos mais próximos de nos cruzarmos com vídeos de uma banda coreana famosa, com imagens muito coloridas e visualmente apelativas, ou com mensagens de um artista coreano famoso”, diz Gonçalo Dias, Mestre em Estudos Asiáticos pela FCH-UCP.

“Em termos sociológicos, penso que muitos grupos se formam por consequência do sentimento (muito humano) de pertença, de fazer parte de algo como uma comunidade efervescente e multicultural, que lhes confere um certo enquadramento social”, acrescenta.

Que o diga Miguel Artiaga, que se cruzou com a cultura coreana quando ainda só surfava a onda japonesa, que assegura também já ter banhado a costa portuguesa. “Eu diria que quem se interessa pela cultura coreana acaba por descobrir e gostar da japonesa. Normalmente a comunidade estende-se a outros países orientais”, explica o dono da loja de revenda de produtos coreanos Ppang, que gere juntamente com a amiga Bruna Reis.

Conscientes da tendência, aproveitam-na e remam a onda virados para o futuro: “As coisas com a loja parecem estar a correr bem, mas vamos sem dúvida expandir o stock a outras culturas orientais”.

simoneta.vicente@sol.pt