Clima decisivo em Paris

Uma cimeira histórica em Paris, numa maratona de encontros decisivos entre 150 chefes de Estado e negociadores, com um objetivo, no mínimo, ambicioso: alcançar finalmente, e após 20 anos de negociações infrutíferas, um compromisso à escala global que resulte em medidas legislativas concretas para conter a temperatura média à superfície da terra abaixo dos 2ºC…

Clima decisivo em Paris

A 21.ª Cimeira das Nações Unidas para o Clima (COP 21), iniciada domingo na capital gaulesa, estende-se até dia 11 com um cenário difícil à partida: os mais recentes dados da Organização Meteorológica Mundial dão conta de que a temperatura média do globo já aumentou mais de 1ºC. E as consequências, os famigerados fenómenos meteorológicos extremos, que, segundo os especialistas poderão levar a mais fome, migrações em massa e guerras por alimento e água potável, já se fazem sentir. Com este cenário de estado de emergência mundial em pano de fundo, a expectativa de obter resultados no encontro é grande. Estadistas dos quatro cantos do mundo parecem ter compreendido a urgência de diminuir a emissão de gases com efeito de estufa para a atmosfera, através da criação de indústrias pouco poluentes e da adaptação de setores como o energético e o dos transportes – os principais destinatários das medidas políticas tomadas até agora na Europa, na sequência do Protocolo de Quioto.

Ao contrário do acordo firmado em 1997, o encontro de Paris é inédito por incluir setores esquecidos na agenda climática: a agricultura, a desflorestação e o uso do solo, responsáveis, segundo cálculos da ONU, por 24% dos gases poluentes emitidos para a atmosfera. Nesta cimeira, estão presentes representantes de povos indígenas da Amazónia, o grande pulmão do mundo, em desflorestação. E o Brasil, um dos países mais importantes no que diz respeito ao uso do solo já assumiu o compromisso de reflorestar 12 milhões de hectares do  território e de recuperar outros 15 milhões de terrenos devastados por atividades agrícolas.

Também há sinais positivos vindos da Ásia: a China (que não assinou o Protocolo de Quioto) prometeu agora reduzir em 20% as suas emissões. Outro passo em frente foi dado pelo Presidente dos EUA, que reconheceu o papel do país no que diz respeito às alterações climáticas e anunciou que os responsáveis dos diferentes Estados presentes na cimeira deverão, doravante, encontrar-se regularmente para avaliar os progressos das medidas aplicadas nos diferentes países.

O país anfitrião, França, não ficou atrás nos grandes gestos na cimeira das Nações Unidas para as Alterações Climáticas. Os chefes de Estado africanos receberam uma promessa simbólica do Presidente gaulês. Após reconhecer a “dívida ecológica” mundial a África, François Hollande quase duplicou as ajudas francesas para as energias renováveis em África, que passaram a dois mil milhões de euros até 2020. “A França quer dar o exemplo, e não apoia simplesmente as forças militares africanas no Mali ou na República Centro-africana”, afirmou.

Após o regresso a casa dos 150 líderes mundiais esta quarta-feira, foi a vez de os negociadores reunidos em Paris, COP 21, esboçarem uma resolução comum para reduzir as emissões de dióxido de carbono para a atmosfera.

Laurent Fabius, ministro francês dos Negócios Estrangeiros, e anfitrião da Cimeira, revelou-se esperançoso na possibilidade de alcançar um compromisso: “Os chefes de Estado e governo deram-nos um mandato sem ambiguidades, na segunda-feira. Temos que fazer tudo ao nosso alcance para ter sucesso”, declarou.

Decorridos os primeiros dias do encontro, também Nigel Purvis, do Climate Advisers e antigo negociador do Governo norte-americano, lembrou aos jornalistas que “as coisas ficam sempre piores antes de melhorarem” e advertiu os observadores internacionais da possibilidade de “uma quebra nas conversações, em que tudo vai parecer perdido, mas isso é normal”.

Entretanto, um pouco por todo o mundo, sucedem-se manifestações para pressionar os governos a ir além da retórica. A uma semana do fim das negociações, o futuro da humanidade joga-se em Paris.

sonia.balasteiro@sol.pt