Pedro Sánchez: Um cometa ‘guapo’ que pode desaparecer

   

Ambição e confiança em dose extra. Esta é a definição de Pedro Sánchez, líder dos socialistas espanhóis, em seis palavras. Ainda nem sequer tinha conseguido entrar para o parlamento, mas já sabia: “Vou ser secretário-geral do PSOE e primeiro-ministro”. O primeiro objetivo está cumprido, o segundo não está fácil, mas ainda é possível.

“Temos sérias possibilidades de ser a força mais votada” disse na quinta-feira em entrevista ao “El Mundo”. Se não conseguir, não se dá por derrotado e tentará seguir o caminho de António Costa . “Quem é que ganha o campeonato? Quem ganha mais jogos ou acumula mais pontos? Os cidadãos vão votar em quem os vai representar no Congresso. O primeiro-ministro será o candidato que tenha o apoio de mais deputados”.

As últimas sondagens dão o PSOE em segundo lugar, e só uma improvável aliança entre os socialistas, Ciudadanos, Podemos e Izquierda Unida poderá concretizar o desejo de Sánchez – que tem disparado contra os partidos à sua volta ao mesmo tempo que não rejeita a possibilidade de se entender com todos eles (à exceção do grande rival, o PP).

“O seu otimismo é quase ousado” descreve o antigo ministro da Indústria socialista Miguel Sebastian ao mesmo jornal. Ao El Pais, um amigo de infância recorda a determinação do homem que quando começou a jogar basquetebol era “um tosco, não sabia nada de nada, e no final do ano já estava na equipa A”.

Para não sofrer deceções, Pedro Sánchez já se considera um homem afortunado, porque a vida lhe permitiu concretizar as suas três grandes paixões. O basquetebol primeiro – pensou ser profissional, mas abandonou porque decidiu que não tinha qualidade suficiente. Depois a Economia – a carreira que escolheu quando largou a ideia de ser um ás no desporto, tendo-se licenciado numa universidade privada de Madrid, depois dado aulas e finalmente doutorado em diplomacia económica espanhola. A política, já se sabe.

Mas aqui não foi fácil, teve de lutar porque nunca teve muita sorte com os cargos eletivos, à exceção da candidatura à liderança do PSOE.

Em 2003 tentou uma vereação na Câmara de Madrid. Não foi eleito, mas as desistências repescaram-no para a vereação. Não desdenhou a oportunidade e transformou-se num elemento crucial da líder da oposição ao executivo, Trinidad Jiménez. Ficou seis anos.

A história repetiu-se por mais duas vezes, quando tentou chegar ao Parlamento. Nem nas legislativas de 2008 nem nas de 2010 conseguiu ser eleito.

Mas acabou por ser deputado. Primeiro após a saída do ex-vice-primeiro-ministro de Rodríguez Zapatero, Pedro Solbes, em 2009. Também voltou a agarrar o lugar com ambas as mãos e em 2010 os jornalistas escolheram-no como deputado revelação.

Não lhe serviu de muito, porque nesse ano voltou a ficar à porta das Cortes. Aproveitou para dar aulas e investir na carreira docente, doutorando-se e dando brado politico quando apresentou o livro que resultou da sua tese acompanhado de um conjunto de tubarões do partido.

Em 2013 voltaram a abriram-se-lhe as portas do Congreso de los Diputados, também após a saída de outra antiga ministra de Zapatero, Cristina Narbona.

A formiguinha Sánchez, entretanto, não tinha parado. Sozinho, percorreu o mapa socialista: de comboio e num carro que também ficou famoso politicamente, o seu Peugeot 407. Conheceu centenas de militantes, comia com eles, dormia em suas casas e até deixava escapar que estava a pensar candidatar-se a secretário-geral.

Nunca teve cargos de relevo no partido, mas desta vez conseguiu o objetivo à primeira. Alfredo Pérez Rubalcalba nunca entusiasmou o eleitorado e demitiu-se depois dos maus resultados do PSOE nas europeias de Maio de 2014. Dias depois, no início de Junho, Sanchéz anunciava a candidatura nas diretas para a liderança. No final do mês era o novo secretário-geral.

Um ano depois, aos 43 anos, é o candidato do partido à presidência do governo. Casado, tem duas filhas, diz que é vaidoso e adora ouvir a cantora islandesa Björk. A mulher, Begoña Fernandez, acompanha-o com regularidade.

São o ‘casal Obama’ de Espanha, dizem os jornais. Mas Sánchez – para tant@s conhecido apenas pelos seus dotes físicos – não é Barack, mas Geoge Clooney ou ‘El Guapo’ (‘O giro’) nomes com que o marcou uma das suas aliadas políticas. Susana Díaz, presidente da Junta da Andaluzia está agora ao seu lado. Mas o namoro pode acabar amanhã.