Rajoy teve vitória-derrota

O PP de Rajoy ganhou as eleições com cerca de 28% dos votos, perdendo uma quantidade imensa deles deste as anteriores legislativas (passou dos 186 deputados das antecipadas para 2011, as anteriores eleições, para uns previsíveis 123), e não conseguindo formar agora maioria absoluta (precisa de 176 deputados) sequer com o outro partido de direita,…

E o líder do Ciudadanos já tinha afirmado que só faria uma aliança com o PP se Rajoy saísse, ao que este se manifestou contrário (já se percebeu que estesdirigentes políticos só saem empurrados). Sendo assim, o Ciudadanos disse que deixaria passar o Executivo de Rajoy, e passaria a exercer uma oposição forte (o que o inviabilizaria, se a Esquerda com os Nacionalistas, todos declarados opositores do PP, não inviabilizassem logo a passagem do Governo).

Mas também o PSOE (90 deputados, o pior resultado de sempre) mais o PODEMOS (uma esquerda radical semelhante ao Bloco português, que conseguiu 69 lugares no Parlamento), precisariam de se aliar aos comunistas e nacionalistas – o que não deve ser difícil porque, embora estes últimos sejam mais conservadores, vivem numa incompatibilidade absoluta com o PP (foi Rajoy, que ao recusar negociar o financiamento autonómico com a Catalunha, provocou a erupção do movimento independentista).

Claro que para uma aliança parlamentar alargada é necessário que alguém tenha talentos para a formar (o que não parece ser o caso de Rajoy, como não foi o de Passos Coelho). Mas torna a solução de Governo mais plural e democrática. De resto, foi pelo parlamentariamo de maioria que se fizeram em Portugal o 25 de Abril de 74 e o 25 de Novembro de 75.

Esta coisa de se falar em vitórias eleitorais, esquecendo as maiorias parlamentares, parece muito pouco democrática, à luz dos princípios da democracia orgânica e parlamentar. De resto, percebe-se um oportunismo de quem o defende, prontificando-se à posição oposta se a achasse mais útil. Lembremo-nos que a anterior primeira ministra da esquerda democrática da Dinamarca ganhou as últimas eleições, subiu mesmo relativamente às anteriores, mas afastou-se democraticamente sem refilar e sem acusações antidemocráticas à sua oposição, quando viu a direita com maioria parlamentar. Em Portugal, a situação só não foi igual, porque quem saiu teve de ser empurrado quase à força. Mas verificaram-se situações semelhantes (de maiorias parlamentares diferentes do maior número de votos num partido) ainda em países como o Luxemburgo, a Bélgica e a Letónia. Portugal e Espanha estão a europeizar-se neste aspeto.