Vitória de Marcelo que ‘não tira o sono’ a Costa

Para António Vitorino, a vitória de Marcelo Rebelo de Sousa “não tira o sono a António Costa”.

“A questão é que ele atue como disse que ia atuar. Ele chega a Belém com a máxima liberdade, que corresponde à máxima responsabilidade. Fez uma campanha solitária, não deve nada a ninguém, a nenhum partido. Aquilo que ele fizer como Presidente é a maneira como passará a História”, salientou o socialista, na noite passada, na SIC, acrescentando esperar “que aquela dimensão lúdica – que é, aliás, o que dá graça ao professor Marcelo – acabe por se esbater para dar prevalência ao sentido de Estado”.

Louçã elogia estratégia do candidato ao centro

“Marcelo fez uma campanha sólida. Ao contrário da crítica de alguns candidatos, ele obviamente não era nem uma continuação de Cavaco Silva nem um instrumento de Passos Coelho e de Paulo Portas” – salientou, por seu turno, Francisco Louçã. Para o ex-dirigente do BE, Marcelo beneficiou do capital de simpatia e de afeto com que partia, “mas também de uma estratégia bem delineada de fazer uma candidatura ao centro”.

Neste sentido, para Louçã, “Marcelo foi o mais consistente apoiante de António Costa nesta campanha”. E a pergunta, por isso, talvez deva ser feita ao contrário: “Não é se Costa beneficia desta tranquilidade que Marcelo lhe promete, mas sim se Marcelo não chegou à vitória por causa disso mesmo. E se alguém se interroga que há uma viragem na politica portuguesa, eu acho que não”.

‘Nenhum partido ganhou nem perdeu’, nota Santana

Santana Lopes sublinhou, por seu turno, o facto “curioso” de, à exceção do PCP, não ter havido partidos a reclamar vitória ou a assumir derrota nestas eleições presidenciais. “Mas isto só demonstra mais uma vez que esta eleição é uma realidade diferente da das outras eleições”.

Para António Vitorino, “a armadilha da candidatura de Marcelo foi aí completa, pois beneficiou de uma certa ingenuidade dos outros candidatos quando quiseram fazer dele um novo Cavaco Silva ou um pivô da maioria que perdeu as eleições em 4 de outubro”. “Os eleitores sabem distinguir muito bem e puniram os que o tentaram fazer”.

Francisco Louçã corroborou: “Acho que é muito evidente que o PS desistiu muito cedo destas eleições. Ou porque esteve dependente até muito tarde da decisão de Guterres, ou porque outras pessoas escolheram não ser candidatas. Acho até que se nota no discurso de António Costa um alívio: ‘esta maçada acabou e está resolvido o problema…’”.

“Se comparamos com a disputa Cavaco-Sampaio, por exemplo, não havia nestas eleições um candidato do PS a disputar genuinamente” a liderança da esquerda, acrescentou Louçã, criticando Sampaio da Nóvoa por ter cometido alguns erros, como a colagem “em demasia” a Ramalho Eanes, por exemplo. Quanto a Marisa Matias, considerou, “não cometeu o erro de diabolizar Marcelo e ganhou ao introduzir diversas questões da atualidade no debate político”.

António Vitorino sublinhou, por fim, que a regra nas eleições presidenciais portuguesas “manteve-se inalterada: quem ganhou foi capaz de tocar o outro campo, ir buscar votos à área política diferente da sua”. 

paula.azevedo@sol.pt