Um Marcelo imprevisível mas amadurecido

Repararam que na TV, nem os maiores amigos e próximos de Marcelo Rebelo de Sousa, se afirmaram capazes de prever a sua ação futura? E quem foi capaz, não conta: como dizem os filósofos desde a antiguidade, só não tem dúvidas quem não pensa. Até o seu mais antigo amigo, Alfredo Barroso, admitiu que Marcelo…

Vou confessar um pensamento meu: talvez desta vez a sua maior imprevisibilidade seja tudo ser simples e como ele o diz. Não esperemos pois que ele não seja igual a si próprio, mas esperamos que se limite às funções presidenciais de um patrocinador de consensos, católico próximo do Papa Francisco e dos elementos mais avançados da Igreja Católica, totalmente do velho PSD social-democrata e centrista, como ele se afirma e sempre foi. É mesmo verdade que ele sempre foi uma esquerda da direita, como o seu irmão Ant voiu a sua campanha o que ambos tiravam dele dividendos: Sampaio da Nºovoa porque talvez tivesse estado ali realmente melhor, eónio pode ser considerado, no PS, uma direita da esquerda.

Conheço-o há uns anos, trabalhei com ele, diverti-me imenso com o seu feitio (fui seu aluno – embora pense que ele não deu por isso – quando começou em Direito como professor assistente de Economia, na equipa de Suares Martinez, e estreitei relações em casa de um amigo de que ele era íntimo de um irmão mais velho) – e realmente temi que não conseguisse chegar onde sempre quis estar: no topo do serviço público. Via-o ser incapaz de confrontar um adversário que tivesse alguma coisa de admirável para ele (como aconteceu na campanha com Jorge Sampaio, para a Câmara de Lisboa); vi-o também ser incapaz de ficar a digerir sucessivas vitórias (como aconteceu quando foi líder do PSD); vi-o enrolar companheiros do partido num antisácarneirismo inconsciente, num calor comicieiro; enfim, vi-o em tantas, que temia vê-lo agora também morrer na praia.

Mas não: a oportunidade tornava-se tardia, mas foi devidamente agarrada. Onde percebi que tinha tudo sob o seu absoluto controlo foi no frente-a-frente televisivo com Sampaio da Nóvoa. Muitos acharam que o debate tinha sido vencido claramente por este último. Eu percebi logo que ambos tiravam dele dividendos: Sampaio da Nóvoa porque talvez tivesse estado ali realmente melhor, e viu a sua campanha arrancar de vez; mas Marcelo também, porque comprovou ser capaz de responder à letra a um ex-reitor que ele institucionalmente admirava, mantendo-se na sua de passar a campanha a contar interiormente até 100, esperando pacientemente o seu final. Jorge Sampaio já não o teria mais à frente sem resposta, como sucedera na campanha de Lisboa. Hoje, não lhe ganharia, como não ganhou Nóvoa.

De resto, a campanha pareceu toda pensada ao milímetro, para ser ganha: e ganha pessoalmente, sem a ajuda incómoda do PSD de Passos ou do CDS de Portas. Marcelo vale hoje muitíssimo mais do que os 2 juntos. O ‘one man show’ foi perfeito. Não havia assessores, nada. E a única que apareceu a falar em seu nome, no dia das eleições já ganhas, Esmeralda Dourado, deixou qualquer outro assessor a milhas – na capacidade de comunicação e de síntese.

O país ficou maravilhado com a eleição de Marcelo; e quem não está maravilhado, não se mostra tão pouco contrariado. Estamos apaziguados, e crentes de que não dececionará apoiantes nem opositores.