Marisa apaga Edgar do mapa

Se o surpreendente resultado eleitoral de Catarina Martins e do Bloco de Esquerda nas legislativas de 4 de outubro (10,2% e 19 deputados) já deixara o PCP (com 8,3% e 17 deputados) numa incómoda posição de subalternidade à esquerda, a votação nas presidenciais de domingo, dia 24, terá deixado o PCP em preocupante estado de depressão.

Marisa apaga Edgar do mapa

Edgar Silva, o apagado candidato madeirense que os dirigentes comunistas fizeram avançar neste confronto presidencial, registou a pior votação de sempre do PCP, ficando abaixo da fasquia mínima dos 4%, com apenas 3,9% e menos de 200 mil votos. Só António Abreu em 2001 com 5,2% se aproximou de tão mau resultado, aparecendo a seguir Francisco Lopes em 2011 (7,1%) e Octávio Pato em 1976 (7,6%) na tabela desses registos mais negativos.

Os 3,9% de Edgar Silva colocaram os comunistas ao nível de pequenos partidos, com votações insignificantes abaixo dos 3% em 12 dos 20 distritos e regiões autónomas. Só em três casos a percentagem do candidato do PCP ultrapassou o limiar dos 10%: em Évora (11,5%), Beja (15,6%) e na Madeira, terra natal de Edgar Silva (19,7%).

Bloco muito à frente do PCP

A agravar este balanço negro do PCP nas presidenciais de domingo está o facto de a candidata do Bloco de Esquerda, Marisa Matias, ter alcançado 10,1%, mais de duas vezes e meia a votação de Edgar Silva.

Como retrata o mapa comparativo nesta página, Marisa fica à frente de Edgar na esmagadora maioria dos concelhos do país, reduzindo a primazia do candidato do PCP a duas regiões bem delimitadas: o Alentejo (basicamente, os distritos de Beja e Évora) e a Madeira (por razões circunstanciais de naturalidade do candidato). A cor lilás de Marisa enche quase todo o mapa, como se fosse um partido de implantação nacional, enquanto as manchas vermelhas e circunscritas de Edgar se assemelham às de um pequeno partido de cariz regional.

No conjunto dos 308 concelhos do país, Edgar Silva apenas fica à frente de Marisa Matias em 37 concelhos, ao passo que a candidata do Bloco o suplanta em 271 concelhos, ou seja, em 88% dos casos.

A supremacia comparativa do BE é um mau sinal para o PCP e torna-se particularmente ameaçadora, do ponto de vista sociológico e eleitoral, nas zonas urbanas com uma população mais jovem e dinâmica onde a hegemonia do Bloco é ainda mais acentuada.

Recorde-se que o BE, ainda sob a liderança de Francisco Louçã, ultrapassou pela primeira vez o PCP nas legislativas de 2009 (9,8% contra 7,9%), mas que a situação se invertera logo em 2011 (com o PCP a manter 7,9% e o BE a cair para 5,2%).

Agora, ocorre uma dupla vitória dos bloquistas sobre os comunistas – nas legislativas e, maior ainda, nas presidenciais. A estratégia eleitoral da Soeiro Pereira Gomes e a aposta em Edgar Silva revelaram-se um fiasco político. E a explicação da "candidata engraçadinha" avançada por Jerónimo de Sousa apenas pode servir para disfarçar as verdadeiras razões destas sucessivas derrotas eleitorais do PCP.

Mais de 70% dos 469 mil votosde Marisa Matias vieram do BE. Mas os eleitores do Bloco em outubro repartiram-se agora para vários candidatos presidenciais.

Já Edgar Silva apenas capta eleitorado da CDU e só 40% dos votantes comunistas lhe terão dado o seu voto no passado domingo.

Sampaio da Nóvoa, com 118 mil votos do BE e 96 mil do PCP, é o maior beneficiado nestas transferências