Mustang. Girls just want to have fun

“Se tentas casar-me, eu grito.” Ser mulher na Turquia  continua a estar muito longe do que é ser mulher na Europa. 

Que o diga Deniz Ergüven, realizadora turca que cresceu em França e regressou ao seu país para filmar “Mustang”, nomeado francês para o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro, apesar de ser falado em turco e do elenco completamente turco, que é um poderoso retrato sobre a sexualidade e a emancipação das mulheres na Turquia profunda, contado ainda assim com um olhar muito ocidental.

E reminiscências de “Virgens Suicidas”, de Sofia Copolla (1999), foi a própria realizadora a admitir a inspiração. “Girls just want to have fun”, cantava Cyndi Lauper, e é isso que querem as cinco irmãs órfãs que protagonizam o filme, educadas pela avó, na Anatólia. Uma vontade que não é só isso, é política. Depois de uma brincadeira com rapazes que uma vizinha decide denunciar à família, são-lhes impostas várias restrições – além da submissão a testes de virgindade.

Sem as roupas justas, a maquilhagem e sem telemóveis, elas terão de encontrar outras formas de libertação. Ao longo do filme, esse ambiente familiar claustrofóbico é alternado com os atos de rebeldia de quem quer crescer à sua maneira, to have some fun, é verdade, mas sobretudo ser livre. Com os casamentos arranjados das irmãs mais velhas, as mais novas lutam por um destino diferente num país ainda dominado por uma cultura machista. Crescer para casar e ter filhos e marido e cuidar deles, ser mulher, ser adulta, ser tudo antes do tempo, só nunca ser livre. Poder-se-ia dizer que “Mustang” é um bom filme político. Mas é muito mais do que isso. 

“Mustang”
De Deniz Gamze Ergüven
Com Günes Sensoy, Doga Zeynep Doguslu, e Tugba Sunguroglu