O elogio de Passos Coelho ao OE de Costa

Pedro Passos Coelho, em Oeiras, na Conferência da Plataforma Mais Futuro, Mais Portugal, afirmou: «Não sei se se recordam mas eu era assim uma espécie de lacaio de Bruxelas».

A maioria dos comentadores resolveu interpretar estas palavras como uma das ironias castigadas (parece que ele não tem muito jeito para a retórica) de Passos. Eu acho que não, nem é ironia castigada, nem falta de jeito para a retórica. Ésimplesmente um rasgado elogio que Passos faz ao Executivo. Ficou feliz porque a austeridade, imposta por Bruxelas, continua sem ele. Só se incomoda que seja uma austeridade mais ponderada, mais trabalhada, mais discutida com a UE, tentando penalizar menos os mais desfavorecidos e sem procurar pôr uns portugueses contra os outros.

Por isso, o mesmo Pedro Passos Coelho acusou no fim de semana o PS de ter «uma retórica infantilizada», dizendo que a austeridade não está a acabar, apenas a ser redistribuída. Aqui está uma coisa que o enerva: a ideia de redistribuição que não ocorreu no seu Governo. E aí sim, perde as estribeiras, sem ironia nenhuma, apenas esquecendo-se de que queria voltar à social-democracia. Por isso, interpretando bem a posição do líder, o presidente do Grupo Parlamentar, Luís Montenegro, disse ontem no Parlamento, durante odebate na generalidade do OE 2016: «Esta é a Vossa oportunidade». E, neste Parlamento, não fora António Costa a assumir-lhe a paternidade com orgulho,parecia que o OE não tinha um único apoiante, do CDS ao PCP, passando pelo PSD e BE. Mas tudo indica que Passos. Na sua irritação com a redistribuição mais ponderada do PS, até apoiada pela esquerda, não vai recordar a viragem social-democrata que anunciou, mas apenas votar sempre e a eito contra qualquer medida que lhe pareça melhor do que as suas.

E ainda não se chegou ao ponto de o Governo de António Costa ter de fazer o que os de Passos sempre fizeram: um orçamento rectificativo. Quando o fizer, lá estará outra vez Passos a alternar entre o que uns pensam ser ironia (a satisfação por outros irem na sua senda), e o aborrecimento por imaginar alguma coisa melhor do que foi capaz (o que o cegará realmente e o porá de qualquer maneira contra). Tendendo para a sua especialidade: não votar nada dos outros. Mesmo assim, esperando para ver, ao contrário do CDS que, como alguém sublinhava, vota contra às cegas (também terá certamente outro género de apoiantes, a quem pouco importa a realidade).