Absorver o ‘grande retorno’ de mão de obra da construção

As preocupações que unem no mesmo patamar dirigentes empresariais e dirigentes sindicais da construção civil, bem patentes na posição conjunta que o presidente da Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas (AICCOPN), Manuel Reis Campos, e o presidente do Sindicato da Construção Civil, Albano Ribeiro, recentemente tornaram pública, mostram que é no imobiliário,…

O principal desafio é o de absorver um verdadeiro e já iniciado grande retorno de trabalhadores da construção civil que nos últimos anos foram trabalhar para o estrangeiro, por exemplo para Angola, um dos países mais procuradas nessa leva de emigração, mas que estão a regressar por dificuldades em manterem-se nos países de acolhimento profissional, muitos deles a viver outras crises.

A preocupação com esta realidade – que em Angola toca numa percentagem muito significativa de empresas portuguesas de construção – é o cimento que une empresários e sindicalistas do setor da construção. A alternativa à quebra de volume de negócios e ao desemprego que a crise do subprime gerou entre nós foi, para este setor, o da aposta em mercados emergentes que estivessem próximos da nossa cultura, mas a situação também aí se agravou.

Se  o grande retorno de mão de obra da construção civil que se adivinha para breve não encontrar um acolhimento eficaz em Portugal vão perder-se, já em 2016, dezenas de milhares de postos de trabalho e milhares de empresas do setor poderão desaparecer, algumas das quais tidas como grandes empresas e esteios do próprio emprego nacional. Como tantas vezes alertei, a esperança é a reabilitação urbana.

Sem querer ressuscitar os tempos em que foi necessário criar o Instituto de Apoio ao Retorno de Nacionais (IARN)  para prestar apoio aos portugueses que regressavam a Portugal, forçadamente e sem meios para a reintegração, a verdade é que o ‘grande retorno’ que agora se adivinha não sendo, longe disso, tão grande como o que gerou o IARN, também carece de outra atenção até agora inexistente.

O meu amigo e dirigente empresarial Manuel Reis Campos e o sindicalista Albano Ribeiro, pessoas que terão, naturalmente divergências significativas em muitas matérias, estão de acordo em afirmar que esta realidade merece um olhar diferente e mais atento, no que respeita às obras públicas e à reabilitação Urbana que o país também precisa e não apenas para salvar os empregos do setor.

Não se trata de criar postos de trabalho artificiais- Trata-se de dinamizar um setor que pode crescer sustentadamente em Portugal, contribuindo para animar a própria economia Portuguesa, e um setor que tem enormes perspetivas de futuro, nomeadamente e por exemplo também no turismo residencial.

Defender estas soluções não é defender corporativamente um setor. É muito mais do que isso, é defender o próprio país, a recuperação económica que todos desejam e querem e é contribuir, fazendo história, para que a nossa geração possa deixar às gerações futuras um Portugal melhor e mais sustentável do que aquele que recebemos. A reabilitação urbana devia ser uma bandeira de todos, patrões, empregados, Estado e até do Orçamento de Estado.

*Presidente da CIMLOP – Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa

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