O irrevogável Portas volta

Foi Sá Carneiro quem assinou a ficha de militante a Paulo Portas, em 12 de setembro de 1980, quando este fez 18 anos. Quando Sá Carneiro morreu, quebrou-se a ligação de Portas ao PSD. Era o fim do ‘jotinha’.

Em 1995, Paulo Portas, ex-jornalista, declara aos jornalistas: «Alisto-me para o combate». Foi profusamente gozado, pois no início dos anos 90 tinha afirmado numa entrevista à RTP: «Não tenho ambições políticas nenhumas. Se há coisa definitiva na minha vida, é essa. Gosto muito de política, mas nunca farei política. A mim basta-me ser jornalista. Gosto da vida n’O Independente e não tenciono trocá-la por nada». Podem ir ver no Youtube e confirmar que ainda hoje é um sucesso.

Tantos anos de O Independente – que serviram essencialmente para derreter em banho-maria os governos de Cavaco Silva – deixaram suficientes pistas do que seria, dali em diante, o seu CDS-PP: um partido de direita, com novas bandeiras e sem cheiro a mofo, imaginativo e criativo na oposição, com novos dirigentes. Pragmático: inimigo da esquerda e adversário do PSD. Não fazendo coligações à partida, antes ganhando peso eleitoral para só depois negociar as soluções mais vantajosas.

Os anos e as eleições passaram. Nas autárquicas de 2001, Portas jogava a sua sobrevivência outra vez. Apresentou-se como o candidato do CDS à Câmara de Lisboa. João Soares surgia como o candidato naturalmente vencedor à partida, Pedro Santana Lopes era o improvável candidato do PSD, Paulo Portas esperava ser o fiel da balança.

Contra tudo e contra todos, Pedro Santana Lopes vence as eleições com maioria absoluta. Portas fica de rastos. Estava acabado e o CDS em frangalhos. Tinha sido eleito vereador em Lisboa com o slogan ‘Eu fico’, mas não tencionava ficar. Salvou-o da própria demissão a demissão de Guterres, vergado ao peso da tremenda derrota eleitoral autárquica. Escassos dois meses depois, Portas era ministro da Defesa.

Com a ascensão de Sócrates ao poder em 2005, terminava a presença de Paulo Portas no Governo e na liderança do CDS. Mas o político viera para ficar: Portas voltaria ao partido e mais tarde ao Governo, coligado com o PSD. A meio da legislatura, em julho de 2013, anuncia o «irrevogável». Despoleta uma crise política, deixa o país suspenso, quase põe fim ao Governo, mas tudo acaba bem.

Nas legislativas de 2015 negoceia uma boa coligação com o PSD – e sai vencedor. Mas a seguir – vinte anos de liderança e sete anos de Governo depois – anuncia a saída.

Marcelo Rebelo de Sousa, que conhece muito bem Paulo Portas, diz no livro O Independente – A Máquina de Triturar Políticos que ele «nunca resolveu o seu problema com o PSD». E lembra mesmo que Portas ganhou estatuto a atacar o PSD: «A especialidade dele era irritar os laranjinhas».

Assunção Cristas mostrou este fim de semana que decorou bem a lição: a esquerda é um inimigo, o PSD é o adversário e não faz coligações à partida. Até vai concorrer à CML em 2017.

Assunção Cristas já irritou o PSD, mas – convenhamos – até agora não há novidade. É tudo puro Paulo Portas.