Saúde oral para todos!

“A saúde é conservada pelo conhecimento e observação do próprio corpo” (Cícero)

A Medicina enfrenta no século XXI um desafio bastante diferente daquele que foi o seu caminho ao longo dos séculos, um caminho que passou pelos trilhos da descoberta e do conhecimento centrado na doença, estabelecendo uma relação direta e íntima com as distintas patologias. Hoje e no futuro esta relação causa-efeito, continuará a ser obviamente uma prioridade quotidiana no entanto, a doença deixará de ser o centro da Medicina para dar lugar ao doente.

É o cidadão o grande decisor da saúde, quer pela facilidade ao acesso a informação e conhecimento em saúde, quer pelo atual contexto sócio-económico daquele que é um dos maiores mercados mundiais em expansão: o mercado da saúde. Somos, cada vez mais, pacientes exigentes num mundo em que a forma como a saúde chega até nós começa a sofrer uma transformação através do desenvolvimento das tecnologias da informação.

A realidade Portuguesa já começa a procurar uma maior adaptação a esta Nova Medicina que permitirá ao clínico seguir o rastro dos seus pacientes durante a sua vida clínica, desde o nascimento até à morte, pressupondo uma integração dos sistemas de informação partilhados entre hospitais e centros de saúde. Esta Nova Medicina também permitirá ao clínico acompanhar o doente à distância, no entanto, os grandes desafios em Portugal ainda passam pela “antiga” Medicina.

É necessário romper preconceitos e criar uma profunda reforma na Saúde em Portugal que permita que toda a população possa aceder a cuidados de saúde de excelência e abrangentes numa razão de tempo ideal. Áreas da Medicina como a Psiquiatria, Dermatologia e Saúde Oral, são áreas que devem acompanhar os cidadãos em distintas fases da vida.

Os nossos Centros de Saúde deveriam contemplar estas três especialidades da Medicina para além da medicina geral e familiar, que é a nossa porta de entrada no sistema de saúde.

Os índices de depressão, cancro da pele e cancro oral, serão argumentos suficientes para justificar esta necessidade. No entanto, é ainda mais chocante, isolarmos a Medicina Dentária ao setor privado quando mais de metade dos idosos com idade superior a 65 anos estão “desdentados”, por exemplo.

É verdade que o Plano Nacional de Prevenção de Saúde Oral chegou a quase 3 milhões de utentes com os cheques dentista, tendo sido, provavelmente, o primeiro grande passo para fazer chegar este Ramo da Medicina a toda a população.

Não existe uma saúde geral e uma saúde oral. Esta falácia, introduzida com a criação do SNS, foi claramente política.

É importante permitir que a saúde oral chegue a todos perante a crise económica atual, que deixou de permitir a um elevado número da população recorrer ao médico dentista.

A Medicina Dentária é muito mais do que um sorriso bonito: é a área da Medicina responsável pelo estudo, prevenção, diagnóstico e tratamento das anomalias das doenças dos dentes, boca, maxilares e estruturas anexas.

É também a área da Medicina responsável pela deteção precoce do cancro oral, o 6º cancro que mais mata em todo mundo.

Espero, sinceramente, que o projeto-piloto que prevê levar a Medicina Dentária e os médicos dentistas a 13 centros de saúde do país depressa alastre para todos os centros de saúde.

Os cheques-dentista provaram ser uma boa ajuda, mas que contempla cuidados muito “básicos” de Medicina Dentária, tapando por vezes um buraco em cima de outros mil, sendo, assim, insuficientes e parcos numa população de 10 milhões de habitantes.