Clássico: Jesus regressa ao local do crime

O treinador do Sporting regressa a um placo onde só por uma vez foi feliz em toda a carreira. A memória de Kelvin assombra a missão do Sporting, obrigado a vencer num campo que traz más recordações.

Clássico: Jesus regressa ao local do crime

Ainda hoje a data certamente provocará suores frios a Jorge Jesus. 11 de maio de 2013. Penúltima jornada da I Liga. Jogava-se um clássico de alto risco na Invicta. E o Benfica apresentava-se no relvado do Dragão com os galões de líder, cozidos com dois pontos de vantagem sobre o FC Porto na tabela classificativa. O empate a uma bola registado a pouco minutos do final do encontro servia às ambições dos encarnados, mas o pé esquerdo de um herói improvável acabou por mudar o rumo dos acontecimentos.

Corria o minuto 92, quando um remate cruzado de Kelvin, um brasileiro de 20 anos a tentar afirmar-se nas fileiras dos azuis e brancos, bateu o guardião Artur Moraes e deixou Jesus de joelhos junto à linha lateral. A tristeza do treinador do Benfica contrastava com a euforia dos adeptos do FC Porto nas bancadas. Não era caso para menos. Os encarnados saíam do Dragão com o campeonato praticamente perdido. Uma reviravolta decisiva que ficou para a história e que acabou por dar o tricampeonato aos portistas.

A mesma história que agora volta a ameaçar Jesus, hoje de leão ao peito. Novo clássico e mais um jogo decisivo para as contas do título, a três jornadas do fim do calendário. Só uma vitória frente ao FC Porto mantém o sonho vivo do Sporting em sagrar-se campeão, perante a ameaça do Benfica. O problema é que a estatística não é animadora. Nem para o treinador, nem para os leões.

Aos 61 anos, e já com 17 temporadas cumpridas no principal escalão do futebol português, apenas por uma vez Jesus conseguiu sair do Dragão com os três pontos. Foi à 15.ª jornada da última temporada, quando Lima deu dois pontapés na ‘maldição’ e ofereceu a vitória aos encarnados (2-0). O saldo é negro: 11 derrotas e 3 empates, por entre equipas como Felgueiras, Estrela da Amadora, Vitória de Setúbal, Vitória de Guimarães, União de Leira, Belenenses, Sp. Braga e Benfica.

A pressão aumenta. O FC Porto é mesmo a equipa que mais vezes venceu Jesus para o campeonato, segundo os dados do site especialiado zerozero.pt. Em 113 derrotas sofridas ao longo de toda a carreira, 18 foram com os dragões como adversário.

A luta contra a história

Depois da vitória em Alvalade, na primeira volta, o Sporting procura o segundo triunfo frente ao maior rival do Norte. Uma missão que se adivinha espinhosa: é preciso recuar até à década de 70, mais precisamente até à época 1975/76, para encontrar a última ocasião em que os leões venceram o FC Porto por duas vezes para o campeonato na mesma temporada. Na altura, ainda Jesus fazia parte do plantel verde e branco e Octávio Machado jogava de dragão ao peito.

Os números não ficam por aqui. Em 81 confrontos do Sporting como visitante no clássico, apenas há registo de 13 vitórias leoninas, contra as 44 do FC Porto. Houve ainda 24 empates. Pior: o último triunfo da equipa de Alvalade remonta já a 2006/07, quando Rodrigo Tello deu os três pontos à equipa de Paulo Bento. O cenário consegue ficar ainda mais negro.

Só por uma vez o Sporting conseguiu vencer na Invicta em clássicos decisivos a três jornadas do fim. Aconteceu em 1943/44, com Virgolino, pai de Jesus, entre os heróis leoninos (3-1). Conseguirá agora o filho seguir as mesmas pisadas? O FC Porto terá uma palavra a dizer.