BE e MPLA: cada um é livre de fazer as suas escolhas

Esquerda e direita parlamentares portuguesas viajaram em peso para Luanda para assistir a mais uma consagração de José Eduardo dos Santos à frente do MPLA. Todos? Não. O BE mantém-se irredutível.

O Bloco de Esquerda (BE) não alinha em romarias. Entre os cinco grupos parlamentares, é o único que vai estar ausente de Luanda para assistir aos trabalhos do VII congresso do MPLA, partido no poder em Angola desde 1975. 

Do lado da ‘geringonça’, PS e PCP fazem-se representar ao mais alto nível. O mesmo acontece com o PSD e com o CDS. Paulo Portas, avançou o “DN”, também foi convidado, a título pessoal, a viajar até Luanda.

José Manuel Pureza, dirigente do BE e vice-presidente da Assembleia da República, vê a situação com normalidade e destaca a coerência do partido em relação à questão angolana. “O Bloco mantém uma distância e uma denúncia critica perante o regime angolano. Não temos nada contra o país, nem contra o povo. Bem pelo contrário. Manifestamos a nossa solidariedade ao povo angolano que vê negadas as liberdades básicas”, disse ao i.

Para José Manuel Pureza, não há qualquer conflito ou problema por haver partidos que apoiam um mesmo governo, mas assumem posições diferentes, conhecidas desde há muito, em matéria de alianças internacionais.

“Cada partido é livre de escolher quem entende no âmbito dessas relações. E cada um assume as respetivas responsabilidades pelas suas escolhas. Essa escolha é livre”, acrescentou o deputado.

O também vice-presidente do parlamento destacou ainda a coerência do Bloco em matéria das relações com Luanda.

“Esta posição segue em linha com aquilo que o BE tem feito e dito sobre a questão. Estamos perante um governo extremamente autoritário e a mais recente prova disso traduziu-se na detenção e condenação de um grupo de jovens, apenas porque foram encontrados no meio da leitura coletiva de um livro que o regime não gosta”, disse.

Para José Manuel Pureza, o “próprio MPLA foi coerente” ao não endereçar qualquer convite ao BE para se deslocar a Luanda e assistir ao congresso.

“Se por alguma circunstância tivéssemos sido convidados, a nossa resposta seria não”, assegurou.

E concluiu: “A nossa atitude é de denúncia das práticas autoritárias e de violação de direitos sobre a população angolana”.

Pelo PS, parceiro do MPLA na Internacional Socialista, vão estar em Luanda o presidente do partido, Carlos César, e a secretária-geral-adjunta, Ana Catarina Mendes. O PSD, partido que mantém desde Cavaco Silva excelentes relações com Luanda, vai enviar o secretário-geral, Matos Rosa, e o vice-presidente Marco António Costa.

O PCP, “partido irmão” com relações de proximidade com o MPLA desde os tempos da clandestinidade e da guerra colonial, indicou Rui Fernandes, da comissão política do Comité Central.

O CDS, cujo pragmatismo do anterior líder Paulo Portas aproximou o partido do poder instalado no palácio da Cidade Alta, avançou Luís Queiró, presidente do Congresso e responsável pelas relações internacionais.

Único candidato Os cerca de 2.600 congressistas presentes no VII congresso do MPLA vão eleger José Eduardo dos Santos, único candidato à liderança do partido que dirige há 37 anos, desde a morte de Agostinho Neto, em setembro de 1979. 

Em março deste ano, durante uma reunião do Comité Central, Eduardo dos Santos anunciou que vai deixar a vida política ativa em 2018. Na ocasião, lembrou que foi eleito em 2012, na sequência das ultimas eleições gerais no país, e que o mandato termina em 2017. Mas nunca esclareceu como será a transição e irá largar o poder.