“Falar em extinção dos comandos é aproveitamento político”

O presidente da Associação de Oficiais das Forças Armadas vê como de “um mau gosto considerável” as declarações de Catarina Martins, que pede o fim do batalhão de comandos.

O presidente da Associação de Oficiais das Forças Armadas (AOFA) é cuidadoso na escolha de palavras. Não fala em “suspensão” dos cursos, mas sim em “condicionamento”, isto porque “para uma coisa estar suspensa tem que estar a decorrer”. 

Neste momento, justifica António Mota, o atual curso está parado enquanto se realizam novas provas físicas aos formandos e o início dos próximos cursos de está dependente do resultado dos inquéritos sobre as condições em que se realiza a formação desta tropa especial. “Resultado esse que, a ser acompanhado de medidas corretivas, será seguido à risca pelo exército”, acrescenta, António Mota ao i.

Recorde-se que morreram dois militares na sequência de um treino dos comandos na região de Alcochete. Outros nove foram hospitalizados, mas apenas dois ainda não tiveram alta médica. 

A “reação política” aos acontecimentos dos últimos dias que levou o BE a pedir o fim dos comandos, leva o tenente-coronel a escolher de forma cuidadosa as palavras, mas nem por isso branda. “Digo e repito. É um tremendo disparate exigir-se a extinção dos comandos em Portugal”. 

A líder do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, tinha pedido o fim da força, defendendo que não responde a uma “necessidade específica” na sociedade portuguesa.

Mas António Mota diz que falar-se em extinguir os comandos num cenário que envolve mortos é de um “populismo condenável e um aproveitamento político da tragédia”. Para o responsável, pedir-se o fim desta força depois de um acidente era o mesmo que se ter exigido o fim da Força Aérea depois da morte de três paraquedistas na Base Aérea do Montijo ou optar-se pelo fim dos bombeiros com a morte de um profissional em serviço.

Anterior extinção Um dos argumentos de Catarina Martins para a defesa do fim dos comandos é facto de terem estado extintos entre 1993 e 2002. “E bem”, acrescenta.

António Mota lembra que essa foi “uma decisão política e não dos militares” e que, aliás, causou um “extremo mal estar” entre os profissionais. “Os comandos foram integrados nos paraquedistas e essa medida não agradou a ninguém”. 

O tenente-coronel considera que a suspensão durou “até que voltasse a prevalecer o bom senso”, recordando que Portugal tem quatro forças especiais – rangers, comandos, paraquedistas e fuzileiros – que faz sentido tecnicamente existirem de forma autónoma, apesar de trabalharem em coordenação.

Também a líder do CDS, Assunção Cristas salientou entretanto a importância de “não confundir” a morte dos militares com a extinção dos comandos. “É muito importante não confundir os temas, é muito importante que se apurem as causas, que se apurem os métodos e depois que se possam fazer discussões mais alargadas”, referiu.

Marcelo defende comandos O Presidente da República já deixou claro que apoia a decisão de investigar o que correu mal nos treinos de comandos, afastando a ideia de que os incidentes da última semana tenham impacto no prestígio das Forças Armadas. 

“Em todas as instituições há momentos bons e maus”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, assegurando que não está em causa a continuidade dos comandos. Um esclarecimentos que equivale a pôr uma pedra no assunto, já que o Presidente é o Chefe Maior das Forças Armadas.