Emmy. Uma guerra feita a sanduíches

E em que o que importa é que no fim ganha a HBO. “A Guerra dos Tronos” e “Veep” voltaram a vencer nas categorias de melhor série dramática e de comédia, numa noite em que à repetente Julia Louis-Dreyfus se juntou uma surpresa (das boas) chamada Rami Malek.

Qualquer coisa havia de vir dali, até porque já há dias que se sabia que o monólogo com que Jimmy Kimmel inauguraria mais uma noite de Emmy seria publicado no Facebook, num vídeo de 360 graus. Difícil de prever era que fosse a mãe do comediante a barrar sanduíches a manteiga de amendoim para distribuir pela assistência, cortesia para abrir o apetite para o que aí vinha: uma noite de prémios, sobretudo mais dos mesmos prémios, mas também de surpresas, daquelas que gostamos de ter, com Rami Malek a encabeçá-las, ao levar para casa o seu primeiro Emmy, pelo papel de Elliot Anderson em “Mr. Robot”.

Mas regressemos à senda dos fait divers, que gostávamos que lesse em voz alta como José Rodrigues dos Santos, que afinal isto é televisão, que “tem a capacidade de nos fazer rir e chorar e, durante certas partes de ‘A Guerra dos Tronos’, de nos fazer masturbar”, e isso faz de todos nós pessoas felizes (e diversas, a diversidade foi outro dos maiores alvos de Kimmel). A não ser que estejamos a ver a coisa ao contrário, como o anfitrião desta edição dos Emmy, que lembra que ela, a televisão, também  nos pode afastar. “Se não fosse a TV, estaria Donald Trump na corrida para as Presidenciais? Não, estaria em casa quietinho a roçar-se na sua mulherMalaria enquanto ela fingia estar a dormir.” 

Ainda não chegámos à HBO mas é verdade que foi a grande vencedora desta 68.ª edição dos Emmy, outra vez, com os prémios de melhor série de drama e de comédia a serem respetivamente entregues a “A Guerra dos Tronos”, a série criada por David Benioff e D. B. Weiss a partir dos livros de George R. R. Martin, e a “Veep”, de Armando Iannucci, uma comédia à volta da história de Selina Meyer (Julia Louis-Dreyfus), vice-presidente dos Estados Unidos. 
Duas produções HBO que não se ficaram por aqui: o melhor realizador foi Miguel Sapochnik, com “A Guerra dos Tronos”, distinguida também na categoria de melhor argumento, de David Benioff and D.B. Weiss, créditos devidos ao penúltimo episódio da temporada, “Battle of the Bastards”, entre outros. “A Guerra dos Tronos” estava nomeada em 24 categorias, venceu em 12 na noite de domingo, em Los Angeles, e com isso bateu o recorde de “Frasier”. 

Outro dos vencedores da noite foi “The People v. O. J. Simpson: American Crime Story”, de Ryan Murphy que, com as suas 22 nomeações, venceu o Emmy de melhor minissérie e deu aos atores Sterling K Brown, Sarah Paulson e Courtney B Vance os prémios de melhores atores secundários pelas suas interpretações de Christopher Darden, Marcia Clark e Johnnie Cochran.

E “Veep”, falta dizer, valeu ainda a Julia Louis-Dreyfus o Emmy de melhor atriz principal de série de comédia. Porque no final ganha a HBO, mas isso de ganhar é mais com Julia Louis-Dreyfus, que bateu o recorde de prémios consecutivos nesta categoria. Foi o seu quinto Emmy seguido, duas noites depois da morte do seu pai, Willie Louis-Dreyfus, o que lhe valeu também o de melhor (ou pelo mais comovente) discurso da noite. “Gostava de aproveitar esta oportunidade para pedir pessoalmente desculpa pelo atual clima político. Acho que ‘Veep’ derrubou o muro que existia entre a comédia e a política”, afirmou a atriz que na série da HBO é Selina Meyer, vice-presidente dos Estados Unidos. “A nossa série começou como uma sátira política mas agora parece mais um documentário sóbrio. Portanto”, acrescentou, “prometo reconstruir esse muro e fazer com que o México o pague.” E, sem qualquer pausa entre uma coisa e a outra, mudou de assunto para a morte do seu pai, a quem dedicou o prémio. “Estou muito feliz por ele ter gostado de ‘Veep’, porque a opinião dele era a que verdadeiramente importava. Obrigada.”

E agora, algo completamente novo

Porque, com tantas repetições – no ano passado já “Veep” e “A Guerra dos Tronos” haviam sido as vencedoras, e a isto pode juntar-se o facto de a HBO ter voltado a ser, à semelhança do que vem acontecendo nos últimos anos, campeã de prémios nos Emmy  – que espaço sobra para novidades, perguntar-se-á o leitor. O necessário, respondemos, para dar a Rami Malek o seu primeio Emmy de sempre. Mais do que merecido, de resto, pelo papel que interpreta em “Mr. Robot”, de Sam Esmail. 

“Por favor, digam-me que também estão a ver isto”, desabafou Malek ao subir ao palco para receber o Emmy de melhor ator principal numa série de drama, numa alusão às visões de Elliot, a personagem que interpreta na série de Sam Esmail. Elliot é um engenheiro de cibersegurança e hacker que sofre de um distúrbio de ansiedade social e de uma depressão crónica, que é recrutado por “Mr. Robot” (Christian Slater), que na verdade é o seu pai imaginário, para liderar um grupo de hacktivistas que tem como objetivo fazer desaparecer todas as dívidas. “Faço de um jovem que, como muitos de nós, vive profundamente alienado. E o mais lamentável disto é que não sei quantos de nós quereriam sair com um tipo como o Elliot. Eu quero prestar homenagem aos Elliots, porque há um bocadinho de Elliot em todos nós, não há?”

Pois, talvez Malek tenha razão. Mas nada como uma boa dose de tronos, hackers… e sanduíches da mãe (de Jimmy Kimmel) para ajudar a esquecer, em mais uma noite de Emmy bem passada.