Falta de trabalhadores leva a atrasos e falhas no Metro e na Carris

De acordo com a Federação dos Sindicatos dos Transportes é preciso contratar 220 trabalhadores para a Carris e mais de 100 para o Metro

Falta de trabalhadores leva a atrasos e falhas no Metro e na Carris

A falta de trabalhadores está na base dos atrasos e na falta de qualidade dos transportes públicos em Lisboa. A garantia é dada ao i por Manuel Leal, do secretariado da Federação dos Sindicatos dos Transportes e Comunicações (Fectrans). E isso aplica-se tanto no Metro como na Carris. “Já há muito que alertamos para a situação de desinvestimento no setor, particularmente nos investimentos na mão-de-obra, na admissão de trabalhadores, e isto leva à situação em que estamos hoje. Faltam trabalhadores em todas as empresas do setor e não há um número de profissionais necessários para dar cumprimento ao serviço que deveria ser prestado pelas empresas”, refere.

O responsável faz as contas e diz que só na Carris são necessários 170 motoristas e 50 trabalhadores para as oficinas. Já no Metro é preciso contratar mais de 100 colaboradores. E se, no primeiro caso, a contratação começa a ser feita, no segundo nem por isso. “É certo que na Carris foram admitidos ou estão em processo de admissão à volta de 75 trabalhadores, mas é claramente insuficiente face às necessidades. No caso do Metro, a situação ainda é mais grave: há a promessa de admissão de 30 trabalhadores, claramente muito insuficiente, mas que ainda não se materializou, ou seja, não passa de uma intenção.”

Esta falta de mão-de-obra leva, de acordo com Manuel Leal, a que os utentes sejam confrontados com atrasos de 50 minutos ou mais em algumas carreiras. “Os tempos de espera da Carris dispararam e são incomportáveis. E essa demora acontece em vários pontos da cidade, com várias carreiras.” E torna-se um círculo vicioso: “Há casos em que há falta de motoristas e isso prejudica o número de carreiras e, noutros, pode haver motoristas, mas não há autocarros disponíveis porque há falta de trabalhadores nas oficinas para fazerem as reparações e, como tal, os veículos acabam por ficar imobilizados”, alerta. Também o próprio trânsito na cidade de Lisboa, devido às obras, acaba por dificultar ainda mais esta circulação, admite o responsável.

Alargamento da rede Estes problemas de atrasos também ocorrem na circulação do Metro. Mais uma vez, segundo Manuel Leal, algumas imobilizações das composições devem-se à falta de trabalhadores para fazer a reparação. Também o alargamento da rede do Metro não teve em conta essas necessidades. “O alargamento implica mais composições, que implicam mais investimento e mais trabalhadores. A manta não estica. E os utentes, além de serem confrontados com esperas longas, deparam-se ainda com avisos constantes de interrupção das linhas, o que aumenta ainda mais a espera, e tudo isto deve-se à falta de trabalhadores ”, refere o responsável.

A par disso há que contar ainda com o constrangimento que ocorre na linha verde – que faz a ligação de Telheiras ao Cais do Sodré – por só ter composições com três carruagens. A explicação é simples: a estação de Arroios, como não sofreu obras de alargamento, não permite responder à circulação das seis carruagens.

A situação, segundo a federação, agravou-se com o último governo, mas quer vê-la resolvida com o atual executivo. “Assistimos a uma desregulamentação das condições de trabalho, à precarização dos próprios salários, o que levou a uma saída bastante grande de trabalhadores que emigraram, que não foram substituídos e que criaram dificuldades ainda maiores nesta falta de mão-de-
-obra”, diz, acrescentando ainda que tem insistido com o atual governo para a necessidade de aumentar o quadro de trabalhadores “para dar cumprimento a este serviço público que se degrada e que vai continuar a degradar-se ainda mais se nada for feito.”

Mas os problemas não ficam por aqui. De acordo com o responsável, a par da fraca qualidade do serviço público de transporte, que afeta diretamente os utentes, a qualidade de serviço prestado pelos próprios trabalhadores é afetada. “E isso tem implicações nos direitos consagrados nos acordos da empresa, no caso das férias que se acumulam sem poderem ser gozadas”, salienta.

Reclamações Mais de 4500 queixas sobre os transportes públicos portugueses foram registadas no primeiro semestre do ano, tendo sido o setor rodoviário o que recebeu o maior número de reclamações, revelou a Autoridade da Mobilidade e do Transporte (AMT). Feitas as contas, foram registadas 25 queixas por dia. No entanto, dizem apenas respeito às que foram apresentadas diretamente àquela autoridade e às que foram registadas no livro de reclamações dos prestadores de serviços.

Deste total, mais de metade (2273) foram dirigidas ao setor rodoviário, 1870 ao setor ferroviário, 293 ao setor fluvial e três ao setor portuário. No setor rodoviário, a maior parte das reclamações (1458) dirigem-se ao transporte de passageiros.

A TST – Transportes Sul do Tejo foi a empresa que recebeu mais queixas (448), seguida da Carris (257), da Rede Expressos (109), da Transdev (84) e da Vimeca (61).

A Scotturb é a sexta empresa com mais reclamações (58), seguida da STCP – Sociedade de Transportes Coletivos do Porto (49), da Barraqueiro (40), da Eva Transportes (34) e da UTC – União de Transportes dos Carvalhos (33).

O “incumprimento”, a “não afixação de horários” e o “cancelamento do serviço sem aviso prévio” foram os principais motivos apresentados nas reclamações.

O setor ferroviário foi o segundo a receber mais queixas, com 1870 (41% do total), repartidas pelo metropolitano, com 1017 reclamações, os comboios de passageiros, com 848 reclamações, e “infraestruturas”, com apenas cinco queixas.

O Metro de Lisboa lidera o número de queixas (878), seguido do MTS – Metro Transportes do Sul (84) e do Metro do Porto (55), estando a maioria das reclamações relacionadas com o facto de os “elevadores, rampas, escadas e tapetes rolantes estarem fora de serviço”.

Quanto ao comboio, a CP teve a maior parte das queixas (655) e a Fertagus 193, estando o “reembolso do valor do título” e o “incumprimento ou não afixação do horário de transporte” na base da maioria das reclamações.