Advogados de Abdeslam desistem de o defender

Principal suspeito dos ataques de Paris recusa-se a falar, em protesto pelas condições da prisão

Frank Berton e Sven Mary, advogados de Salah Abdeslam, suspeito de terrorismo e envolvimento nos ataques de novembro do ano passado, em Paris, anunciaram que vão deixar de o representar legalmente, uma vez que este se recusa a falar.

Numa conferência de imprensa, realizada na quarta-feira, Berton fez a revelação e defendeu que o sistema de vigilância montado na cela de Abdeslam está a causar-lhe danos psicológicos e, por isso, a contribuir para que se mantenha em silêncio. 

“Estou convencido, há meses,  que ele se está a isolar e a radicalizar”, confessou o advogado, citado pela France 24. “[O silêncio] não é chantagem, é apenas a realidade do seu estado psicológico e psíquico”, explicou ainda.

Abdeslam é o único suspeito que sobreviveu aos ataques, na noite de 13 de novembro de 2015, em vários locais da cidade de Paris – e dos quais resultaram 130 mortos –, tendo sido detido em Bruxelas, quatro dias antes de outros atentados na capital da Bélgica.

Aquando da sua prisão, em solo belga, avisou que apenas acedia em falar se fosse extraditado para França, algo que acabou por acontecer, em março deste ano.

Face ao silêncio do detido, os advogados não tiveram outra solução se não desistir de o representar. “É impossível tentar defender alguém que se recusa a defender a si mesmo”, justificou Berton, para depois vaticinar e lamentar: “Ele vai ser acusado de todos os crimes e responsabilizado de tudo… Vai haver um julgamento, mas para quê? A verdade nunca veio do silêncio”.