Novo Banco: BPI e CaixaBank alinhados sobre operação de compra

A operação em Portugal registou um lucro de quase 300 milhões de euros nos primeiros nove meses do ano Lucros do banco subiram mais de 21% para 182,9 milhões de euros até setembro. BPI deverá fechar o ano com menos 384 trabalhadores e 243 balcões em relação a 2015

O dossiê Novo Banco é um dos temas que unem as administrações do BPI e do CaixaBank. A garantia foi dada pelo presidente da instituição financeira portuguesa, Fernando Ulrich, durante a apresentação de resultados, em que o banco registou um lucro de 182,9 milhões de euros entre janeiro e setembro de 2016, o que corresponde a um aumento de 21,2% em relação ao período homólogo de 2015. “Se há matéria em que nós, administração do BPI e do CaixaBank, estamos completamente de acordo é no que toca ao Novo Banco”, afirmou.

Esta é a reação do banqueiro a uma eventual oposição do banco espanhol à compra da instituição financeira liderada por António Ramalho pelo BPI. “Isso é mentira. O CaixaBank tem acompanhado toda a reflexão sobre o Novo Banco.”

Ainda assim, Fernando Ulrich não quis fazer comentários em relação a ter já apresentado ou não uma proposta vinculativa sobre o Novo Banco, dizendo apenas que existe um acordo de confidencialidade. “Seguramente, não foi feito nada que fosse digno de um facto relevante”, acrescentou.

Nova administração No mesmo dia em que o banco apresenta resultados são conhecidos os novos administradores do BPI. O CEO e o responsável pelo risco do CaixaBank substituem o agora líder da Caixa Geral de Depósitos, António Domingues, e Edgar Ferreira, que saiu em diferendo com a administração. “O conselho de administração do Banco BPI, reunido em 26 de outubro de 2016, aprovou cooptar os senhores Gonzalo Gortázar Rotaeche e Pablo Forero Calderón para preencherem as duas vagas que se encontram abertas no conselho há mais tempo, originadas pelas renúncias do Dr. António Domingues e do Eng.o Edgar Alves Ferreira.”

António Domingues renunciou no final de junho à administração do BPI, onde era vice-presidente da comissão executiva, depois de ter sido o escolhido pelo governo para presidente da Caixa Geral de Depósitos, e o seu cargo ainda não tinha sido ocupado.

Já Edgar Alves Ferreira era o representante do Grupo Violas Ferreira Financial, acionista com mais de 2,5% do BPI, que se demitiu da administração em discordância com a postura de Fernando Ulrich e Artur Santos Silva. O agora administrador cessante votou contra a aprovação da oferta pública de aquisição (OPA) pelo conselho de administração do BPI, e quando apresentou a sua renúncia deixou uma declaração de voto com duras críticas à atuação do conselho de administração. Violas Ferreira garante que o conselho de administração passou de uma avaliação da sua posição de mais de 900 milhões de euros para 366 milhões de euros, acusando-o de alterar as avaliações consoante as necessidades.

“O conselho de administração troca o controlo do maior ativo do banco pelo sucesso da OPA lançada pelo seu maior acionista”, acusou.

A posição vai ao encontro do que foi defendido por um grupo de acionistas do BPI, ao afirmar que o valor oferecido pelo CaixaBank na OPA sobre o BPI é 53% mais baixo do que o valor real das ações da instituição financeira, e está a ser penalizado pela forte desvalorização que ocorreu no setor financeiro e acabou por se refletir no valor bolsista em toda a banca. Aliás, este é um dos argumentos usados por um grupo de pequenos acionistas do BPI em carta enviada à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), tal como já avançou o “SOL”, e em que é pedido um auditor independente para fixar o preço da OPA.

O assunto irá ser analisado por Gabriela Figueiredo Dias, a nova presidente da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários. A tarefa poderá não ser assim tão fácil para a nova presidente do órgão regulador, uma vez que o valor proposto pelo CaixaBank, de 1,134 euros por ação, recebeu luz verde por parte da administração do BPI, onde o pai de Gabriela Figueiredo Dias (Jorge de Figueiredo Dias) é um dos nomes que compõem o conselho de administração.

Lucros Os ganhos do banco nos primeiros nove meses do ano revelam uma melhoria da margem financeira de 12,6%, tendo a margem financeira doméstica subido para 15,4%. O custo do risco de crédito diminuiu de 0,54% para 0,22%.

Os recursos de clientes no balanço decresceram 2,6%, influenciados pelo decréscimo dos depósitos a prazo, que caíram 8,5% até setembro.

Já os depósitos à ordem cresceram 22%, o que teve por base a descida das remunerações nos depósitos. No que diz respeito à concessão de crédito existem sinais de inversão na tendência de descida já que, face a setembro de 2015, a diminuição foi marginal: 0,5%.

Os maiores aumentos na concessão de crédito foram destinados a empresários e negócios (9,6%), seguidos do crédito concedido a grandes e médias empresas, que subiu 8,7%.

O produto bancário na atividade doméstica também registou melhorias, com um aumento de 3% em relação a setembro de 2015. Já as imparidades para crédito diminuíram 53,6 milhões de euros, de 90,4 milhões, em setembro de 2015, para 36,9 milhões, em setembro de 2016.

O indicador de imparidades para crédito em percentagem do saldo médio da carteira de crédito, em termos anualizados, situou-se em 0,22% em setembro de 2016 (0,53% em setembro do ano passado).

Por outro lado, o banco recuperou 10,6 milhões de euros de crédito e juros vencidos anteriormente abatidos ao ativo no período de janeiro a setembro de 2016, pelo que as imparidades, após dedução das recuperações acima referidas, ascenderam a 26,3 milhões (77,7 milhões no período homólogo de 2015), o que representa 0,16% da carteira de crédito em termos anualizados (0,45% no período homólogo de 2015).

Os custos de estrutura no BPI aumentaram 1,8%, influenciados em grande parte pela fatura paga com reformas antecipadas. De dezembro de 2015 a setembro de 2016 saíram 142 trabalhadores, devendo sair até dezembro deste ano mais 242. Feitas as contas, a instituição financeira deverá fechar o ano com menos 384 trabalhadores.

Quanto à rede de distribuição, no final de setembro, o BPI tinha 545 balcões em Portugal, o que significa menos 243 face aos 788 que detinha no final de 2015.