Operação Marquês esteve parada durante um mês

Interrupção foi mais uma pedra na engrenagem de uma investigação que corre o risco de derrapar novamente. Diligências foram canceladas durante um mês, até Relação de Lisboa dar razão ao juiz de instrução.

Operação Marquês esteve parada durante um mês

Os últimos meses têm sido conturbados para os investigadores da Operação Marquês. O esforço de aceleração dos trabalhos para que o novo prazo não derrape foi travado pela defesa de José Sócrates que, ao pedir o afastamento de Carlos Alexandre, impossibilitou o juiz de tomar decisões durante cerca de um mês. Foram várias semanas em que não houve buscas, nem quaisquer outras diligências.

Ao que o SOL apurou, ainda antes de 14 de setembro Carlos Alexandre ligou para o Tribunal da Relação de Lisboa para confirmar a veracidade das notícias que davam conta de que José Sócrates tinha entrado com um incidente de recusa com o objetivo de o afastar do inquérito. Na origem do pedido da defesa estaria a entrevista do magistrado à SIC, em que este referiu não ter dinheiro em nome de amigos. Do outro lado a resposta foi positiva e o juiz de instrução tomou uma decisão: anular uma diligência importante que estava já marcada para o dia seguinte.

Fontes ligadas à investigação explicaram ao SOL que Carlos Alexandre terá invocado, ao abrigo do art.º 45.° do Código de Processo Penal, que por ter sido apresentado um requerimento de recusa só iria praticar atos processuais urgentes até que houvesse uma decisão sobre a matéria.

Para 15 de setembro estava marcada a abertura pelo magistrado dos discos rígidos juntos ao processo pela Caixa BI e Haitong Bank, entretanto alvo de buscas. Após dificuldades de ordem técnica no acesso aos dados, o juiz determinara que, pelas 10 horas de 15 de Setembro, se procedesse à análise daqueles suportes informáticos com o apoio de um dos peritos que acompanham a investigação. Em causa estava uma compilação de correspondências por email considerada fundamental pelos investigadores para o andamento dos trabalhos. Mas esta acabaria por ter de ficar a aguardar pela decisão da Relação de Lisboa.

A mesma entrevista, duas interpretações

Na reação à entrevista de Carlos Alexandre, pedindo o seu afastamento do processo, José Sócrates alegou que as declarações do juiz se referiam indubitavelmente ao seu caso, razão pela qual considerava existir risco de a sua intervenção ser suspeita. Afirmava ainda que isso era um motivo mais do que suficiente para desconfiar da imparcialidade do magistrado.

Este documento deu entrada na Relação de Lisboa depois de Sócrates ter afirmado num artigo de opinião, publicado no Diário de Notícias, que já dera instruções aos advogados Pedro Delille e João Araújo para «apresentarem as respetivas queixas aos órgãos judiciais competentes».

Na resposta aos juízes da Relação, Carlos Alexandre defendeu que, na entrevista que foi para o ar a 8 de Setembro, apenas falou da sua vida, não tendo feito qualquer consideração direta ou indireta à de José Sócrates, não lhe tendo assacado quaisquer «males ou culpas». O juiz admite ainda ter falado nos cortes salariais que sofreu quando Sócrates era primeiro-ministro, não vendo nisso qualquer impedimento.