Balaram Stack. Atitude a lembrar Ricardinho dos Santos

São sete da tarde no Leblon, faz mais frio do que é habitual no Rio de Janeiro e Pedro Scooby está à nossa frente, tal como tínhamos marcado. 

Não fazia parte do lote inicial de surfistas convocados para a Nazaré, mas se a desistência de uns é a oportunidade de outros, Balaram Stack agarrou-a como ninguém. 

Estava a surfar a cinco horas de casa, na Florida, quando recebeu uma chamada do amigo Cory Lopez – dois dias antes da call do Capítulo Perfeito. Do outro lado perguntaram-lhe: “podes-te meter num avião esta noite?”. “Não sei, posso tentar”, conta Balaram que não perdeu tempo em meter-se dentro do carro e seguir rumo ao aeroporto. Quando lá chegou “ia perdendo o avião, mas agora estou aqui [Nazaré]”. 

A recompensa pelo esforço não podia ter sido melhor para o surfista norte-americano de 25 anos. A primeira vez em Portugal e com o título de vice-campeão na mala, Stack não voltava a casa de ‘mãos a abanar’. O surfista, que só perdeu para o basco Aritz Aranburu (com uma diferença mínima de 25 centésimos a dar a vitória a Aritz, depois de somar 16,75 pontos), conquistou ainda o troféu Ricardo dos Santos Atitude – o troféu que talvez tenha o maior significado da competição. 

Ricardinho dos Santos, surfista brasileiro especialista em ondas grandes e tubulares, foi um dos convidados de honra na edição do Capítulo Perfeito da edição passada quando foi assassinado, no Rio de Janeiro, com dois tiros (um no tórax e outro no abdómen). Morreu com 24 anos e a forma brutal dos acontecimentos chocou o mundo. A organização acabou por eternizar a memória do surfista através deste troféu especial. Stack recebeu as honras e confessou que “não tinha expectativas, só queria surfar nas ondas. É uma competição de tubos, eu adoro tubos e gosto de ganhar competições. Por isso é como o melhor dos dois mundos”.

Balaram pôs fim a um jejum de cinco anos, quando em 2011 venceu o Pantín Classic Galicia Pro, no país vizinho.  
Voltar à Península Ibérica nunca soube tão bem a este ‘improvável vencedor’. Abriu o champanhe e festejou junto ao vencedor Aranburu (1.º) Dylan Graves (3.º) e Gabe Kling (4.º).

Fomos interromper a festa para voltar a falar com Balaram. Satisfeito e sincero afirmou “não fazer ideia que a Nazaré era um sítio tão bom para surfar. Só vês ondas enormes.” 

Afinal Mcnamara ainda não fez o trabalho todo, e também é disto que se faz o Capítulo Perfeito. Dar a conhecer o potencial das praias portuguesas em todos os cantos do mundo.

De Balaram Stack fica a excelência do surf, a simpatia e uma promessa: “vou voltar certamente”. Antes disso partilha qual é o próximo destino, destino esse que parece ser consensual entre os free surfers que passaram na Praia do Norte: “Havai. Vou continuar sempre à procura da melhor onda”. Boa viagem, Balaram. Ficamos à espera da próxima visita.