Preso. Jipe de Pedro Dias foi avistado pela PJ nos últimos dias

O homem mais procurado do país estava em fuga desde 11 de outubro, mas nos últimos dias a investigação começou a cercá-lo. O último jipe que roubou chegou a ser visto, mas a PJ não avançou para não por ninguém em risco

Pedro Dias, o homem que atirou a matar sobre dois elementos da GNR e um casal em Aguiar da Beira, foi detido esta noite em Arouca. Nos últimos dias, tudo apontava para que o homem fosse encontrado ou se entregasse em breve, desde as declarações da advogada ao SOL, aos seus encontros com a família do suspeito e até aos avistamentos do jipe em Arouca. O homem estava naquela casa, sendo que a Polícia Judiciária já sabia há vários dias do seu paradeiro e por isso tinham montado uma vigia permanente à habitação. Hoje a sua advogada ligou a dizer que ele se ia entregar.

Ontem, Mónica Quintela, advogada do suspeito, disse ao SOL que esta situação não poderia arrastar-se por muito mais tempo: "Ou ele está no estrangeiro e entrega-se ou acabará por ser preso." Considerou ainda que a história estava mal contada, argumentando que só há uma testemunha, "um GNR que felizmente sobvreviveu". 

Mas há mais, segundo a investigação. O SOL sabe que os investigadores contarão com quatro testemunhas: o GNR que sobreviveu, os dois vizinhos que foram sequestrados e a vítima internada em estado grave, que entretanto saiu do coma.

Em fuga há quase um mês, a coberto da mata que, como caçador, bem conhecia, acabou por ser detido hoje perto da casa dos pais, enquanto preparava a sua entrega com Mónica Quintela, a advogada de Coimbra que conseguiu anular a condenação da inspetora da PJ acusada de matar a avó do marido.

Pedro Dias terá agora de ser presente a primeiro interrogatório judicial dentro 24 horas para que lhe seja aplicada a medida de coação.

O homem estava numa casa de uma amiga da família, Fátima Reimão, próxima da dos pais, e na companhia da advogada. Há dois dias que Mónica Quintela vinha preparando a entrega do suspeito à polícia, multiplicando-se em reuniões com a família. Hoje, desde as seis da tarde que a advogada, que disse ao SOL defender apenas os pais, se encontrava na casa onde se deu a detenção.

Para isso contava com uma entrevista à RTP, para que Pedro Dias contasse a sua versão. Mas a PJ, que nunca deixara de vigiar a casa dos pais deste, acompanhava todos estes movimentos. Cerca das 21h, os inspetores da PJ detetaram um movimento estranho na casa: a porta abrira-se, uma mulher dirigira-se a um carro não identificado e retirara um tripé. Perceberam então que Pedro Dias estava a dar uma entrevista e que iria entregar-se.

E foi isso que permitiu antecipar a estratégia de entrega definida pela defesa. Ou seja, a advogada do arguido acabou por se trair a si própria. Pedro Dias nunca fugiu do país, como a PJ sempre defendeu. Após a longa luta travada em tribunal para conseguir a guarda da filha, os investigadores acreditavam que o suspeito não se afastaria da zona de Arouca.

No terreno, nas casas onde se havia abrigado, já tinham encontrado vestígios de que estava a ser ajudado, indiretamente, pelos pais.

O suspeito andava a monte desde 11 de outubro, após ter matado duas pessoas, tendo na mata que, como caçador, conhecia de olhos cerrados, encontrado o seu abrigo. Na madrugada de terça-feira, quando Pedro Dias fora abordado por dois elementos da GNR, nada fazia prever o ritual sangrento em que viria a envolver-se.

Filme dos acontecimentos

Na noite dos crimes, Pedro estava parado num local mais ou menos ermo, mas junto ao hotel cuja construção, com a crise imobiliária, ficou a meio. Aparentemente sozinho, dentro de uma carrinha pick-up. A GNR que, à conta da ocorrência de alguns focos de incêndio durante a noite, faz o patrulhamento da zona, depara-se, às três da manhã, com a carrinha estacionada. Os dois agentes saem ao seu encontro e veem o indivíduo sentado, sozinho. A conversa foi amigável. Ele saiu para fora da carrinha e deu a carta de condução e o livrete. Carlos Caetano, ao pegar no livrete, verifica que a carrinha não está em nome de Pedro e vai ao carro-patrulha para pedir informações da matrícula. Estava em nome da ex-companheira e fora comprada no âmbito da exploração agrícola de que eram sócios. Ao separarem-se, ele ficou com a exploração e ficou de lhe pagar a carrinha, o que não fez.

Pedro permaneceu junto do outro agente, António Ferreira, de 42 anos, que momentaneamente mete a carta de condução no bolso do casaco. Nesse instante, um ruído provoca a distração dos agentes. Pedro aproveita o momento, puxa de uma pistola que tem à cinta, mata Caetano e aponta logo a arma a António, que é apanhado desprevenido. Até àquele momento, não havia qualquer indício de crime. “Claro que a dúvida que subsiste é por que razão fez isto, se não estava a fazer nada. Estava parado dentro da carrinha.”

O primeiro agente tem morte imediata, o segundo é logo desarmado e obrigado a enfiar o colega na bagageira do carro da GNR. É algemado no banco do passageiro de forma a não se conseguir mexer. E Pedro Dias arranca com um morto na mala e outro algemado, e abandona a pick-up.

GNR obrigado a despistar colegas

Anda meia dúzia de quilómetros. Inteligente e frio, aproveita o GNR para fazer manobras de diversão e despistar as autoridades. Obriga António a dar informações disparatadas sobre o percurso à sala de crise da GNR, só para orientar eventuais suspeitas para outros lados. O que veio a funcionar.

Entretanto enfia o carro por um monte acima até que se atola. Aí manda o agente sair e algemar-se a uma árvore. Depois atinge-o na cabeça e António cai. Julgando-o morto, enfia o corpo numa vala, deita alguma vegetação por cima e pedras, e abandona nova viatura.

Os vestígios

Mas António não morrera e Pedro deixara vestígios. A sua carta de condução continua no bolso do casaco do GNR que, pelas cinco e pouco, recobra os sentidos, consegue desenvencilhar-se da vegetação e tem dois quilómetros pela frente até encontrar ajuda. Só pelas sete e pouco encontra socorro. E só a partir dessa hora é dado o alerta.

Pedro Dias desce a ladeira durante um bom bocado e, quando apanha de novo a estrada principal, com as armas dos dois agentes aborda o casal que vai a passar acidentalmente e atinge-os (o homem morre e a mulher ainda está ligada à ventilação)  Tem novo carro e uma confiança louca na sua estrela. Volta ao local do crime, junto do hotel. Aí dissimula o carro do casal no meio de umas giestas, pega na pick-up e começa uma fuga que durou até agora.