BCP. Sonangol ao ataque

A Fosun quer ser o novo acionista de referência do BCP, mas a Sonangol também quer reforçar a sua posição para mais de 20% do capital. Impasse poderá ficar resolvido no dia 21. 

A possibilidade de a Sonangol, detentora de cerca de 18% do BCP, em reforçar a sua presença no banco liderado por Nuno Amado para mais de 20% acabou por adiar a entrada do capital chinês do grupo Fosun (dona da Fidelidade e da Luz Saúde) na instituição financeira, onde se prepara para ficar com uma presença de até 30%. 

Este pedido de reforço por parte da Sonangol já foi feito ao Banco Central Europeu (BCE), mas, ainda assim, não é certo que esta operação se concretize, até porque a petrolífera está a passar por um processo de reestruturação, destinado a cortar custos e a concentrar a empresa na sua atividade principal. Este processo acaba por limitar a capacidade financeira da empresa, sobretudo para investir fora do setor petrolífero. Aliás, chegou a estar em cima da mesa a transferência dos 17,84% que a empresa tem no BCP para o Ministério das Finanças angolano, um negócio que acabou por não se concretizar.

Para já, o presidente do banco, Nuno Amado, não quer comentar o  interesse do seu acionista, dizendo apenas que «sobre a Sonangol, é melhor perguntar à Sonangol. Informações que não são públicas, não podemos responder. Nem sequer informar se temos ou não temos essa informação», revelou durante a apresentação de resultados (ver texto em baixo).

Ainda assim, admitiu que a suspensão da assembleia acontecera por causa de «um alinhamento de princípios e condições, entre várias instituições, que ainda não foi tomado».

Já a entrada da Fosun estará por dias. Isto porque os acionistas do BCP estiveram reunidos esta quarta-feira, tendo sido adiada a votação do ponto que determinava o aumento do limite de votos de 20% para 30% à espera que estejam reunidas todas as condições para a entrada dos chineses.

E este pedido tem um sentido: o grupo chinês considera aumentar a sua participação no BCP. Seja através de operações em mercado secundário ou acompanhando aumentos de capital futuros, a Fosun admite expandir a sua posição no banco para 20% a 30%. Mantendo-se os estatutos, mesmo que a Fosun tivesse 30% do capital, só poderia exercer direitos de voto de 20%.

Plano em marcha

O que é certo é que a pouco e pouco têm sido dados passos no BCP para a entrada do grupo chinês no capital da instituição financeira. Ainda esta semana, os acionistas aprovaram, em assembleia geral, o alargamento do Conselho de Administração do banco dos 20 para os 25 membros. No entanto, foi adiado por mais duas semanas um dos pontos da agenda que previa aumentar o limite de votos dos 20% para os 30%. Os acionistas voltam a encontrar-se no próximo dia 21 para finalizar a votação.

Com a proposta em cima da mesa a administração passa a ter três vice-presidentes, mais um do que o número previsto nos estatutos atuais. Já a comissão executiva, liderada por Nuno Amado, passa a ter um limite máximo de nove membros e um mínimo de seis. Mas a Fosun quer nomear delegados para os dois órgãos de gestão.

O que é certo é que as exigências que foram apresentadas pela Fosun quando anunciou o interesse de entrar no capital do BCP – controlar mais de 16% do capital do banco, via aumento de capital, posição que pode subir para 20% e depois para 30% (daí a revisão dos estatutos) – vão a pouco e pouco sendo cumpridas.

A fusão das ações do banco era uma das reivindicações do grupo chinês e a operação foi levada a cabo no passado dia 24 de outubro. Altura em que os 75 títulos foram fundidos num só. Esta operação, denominada ‘reverse stock split’, teve como objetivo aumentar o valor unitário das ações. Mas para os investidores, além do valor da ação, pouco muda. Ou seja, o valor dos investimentos em carteira não sofrerá qualquer alteração.

A par disso, o grupo chinês pedia o aumento do número máximo de administradores de 20 para 25 elementos – matéria que foi decidida ontem – e o aumento do limite de votos de 20% para 30%. Este último ponto vai então ser discutido no dia 21 de novembro.