A juventude partidária do CDS-PP – a Juventude Popular – defende que “não é aceitável que se fale de contracepção” sem falar também em abstinência. Para os jovens centristas, não faz sentido que uma criança de dez anos possa aprender tudo sobre a “utilização correcta do preservativo”, mas tenha que esperar pelos quinze anos para discutir a hipótese da abstinência sexual.
“Se o objectivo é promover uma ‘liberdade responsável’, os alunos podem ter acesso a informação sobre a contracepção, mas também devem receber uma educação para a abstinência”, atenta o documento.
A Juventude Popular (JP) reagia à versão preliminar do novo referencial de Educação para a Saúde, que estabelece as bases daquilo que é leccionado nas escolas portuguesas, nomeadamente no que diz respeito à Educação Sexual.
“Embora o Referencial de Educação para a Saúde seja apenas um documento ‘orientador’ e não necessariamente vinculativo, preocupam-nos algumas das suas propostas, particularmente no campo da educação sexual”, afirma a introdução do conjunto de propostas que a JP fez ao abrigo da consulta pública relacionada com o tema.
O i contactou o presidente da Juventude Popular, Francisco Rodrigues dos Santos, que manifestou algumas reservas sobre o novo referencial, afirmando: “Se existem, com certeza, pais que se revêem neste documento, outros não, como têm mostrado diversos artigos na imprensa e petições em curso. Estas posições têm de ser respeitadas, reforçando a centralidade da família, devendo o referencial preconizar diferentes modelos de ensino para a saúde em função das opções educativas dos pais, ou abster-se de propor modelos que, por exemplo, no campo da educação sexual representam uma visão ideológica e parcial do ser humano e do seu desenvolvimento enquanto pessoa”.
Para o líder da JP, as prioridades passam por “afirmar a dimensão natural da sexualidade, ensinar a abstinência a par da contracepção, educar para a vida e rejeitar a ideia do aborto aos dez anos” e é nesse sentido que as propostas elencadas no documento incorrem.
“O documento corre o risco de tratar a identidade sexual como uma característica fluida e artificial, mais dependente do meio social envolvente do que de características genéticas e naturais” sublinha o terceiro ponto enumerado.
As propostas da JP não abdicam de uma visão mais conservadora dos costumes, declarando como “particularmente importante que a gravidez, mesmo que indesejada, não seja inventariada ao lado das IST, como se se tratasse de mais uma doença que os contraceptivos ajudam a prevenir” ou que “o aborto permanece um tema altamente polémico e moralmente dúbio”, sendo “incompreensível que se pretenda ensiná-lo nas escolas, para cúmulo, a crianças com 10 anos de idade”.
E o 25 DE novembro…
A força juvenil do CDS-PP teve uma semana ativa. Segunda-feira, a Juventude Popular foi recebida institucionalmente pelo Regimento de Comandos, tendo prestado homenagem aos defuntos da referida unidade com a deposição de uma coroa de flores no respetivo monumento e com uma evocação do papel desempenhado pelos Comandos na consolidação democrática da data do 25 de Novembro de 1975. Rodrigues dos Santos referiu-se à ocasião, sustentando: “A Juventude Popular curva-se perante os homens e mulheres que, de uniforme vestido e ao serviço de Portugal, ergueram os esteios do Estado de Direito Democrático, correndo o risco capital de sacrifício da própria vida”.
O jovem centrista manifestou-se pela “existência de uma unidade de Comandos para salvaguarda de um Portugal soberano e pacífico” depois da polémica em que, com a morte de dois recrutas este verão, forças partidárias como o Bloco de Esquerda terem apelado ao encerramento da unidade.
Polémica antiga
O CDS-PP e a defesa pelo reconhecimento do 25 de Novembro têm uma história antiga. Este ano, na Assembleia Municipal de Lisboa, o Partido Socialista, o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista chumbaram a proposta do CDS por um voto de saudação à data. O PCP reagiu de forma veemente à proposta do CDS, associando até o partido de centro-direita ao Estado Novo. Sobre o sucedido, Diogo Moura, líder dos centristas na Assembleia Municipal, afirmou ao i: “Há dois anos, o PS absteve-se e foi aprovado. À data, Fernando Medina afirmava que se tratava de um momento histórico com uma grande importância, o que revela que a aproximação do ano eleitoral tolda o pensamento de muitos…”.