“Tropeço de ternura por ti”

Esta declaração de amor, meio envergonhada, quase sem jeito, foi escrita a marcador num corredor para os lados do elevador da Bica, totalmente grafitado com tags, riscos, manchas e, por isso, discretamente, por ser muito pequena, contrastava com o ambiente inóspito à volta. Captou o meu olhar este pequeno pedaço de humanidade e ternura, de poesia…

Mais tarde, disse-me a minha amiga Inês que esta frase pertence aos versos de uma canção de hip-hop portuguesa.

E o que poderá significar «tropeçar de ternura»? Poderá querer dizer que as pernas fraquejam perante a mulher amada ou o homem amado (e não é para ser politicamente correta!), perante a «minha senhor» das cantigas de amor medievais, perante aquela ou aquele que se ama perdidamente, num abandono quase total.

Declarar o amor desta forma, simultaneamente tímida e corajosa, pelo facto de estar exposto aos olhares de quem passa, é um ato de grande elevação, porque é muito difícil «cantar» o amor em voz alta, gritá-lo ao mundo.

No entanto, este ato de declaração pública de amor é quase tão antigo quanto o mundo (bem, talvez esteja a exagerar…). O Homem sentiu sempre necessidade de fazer ouvir publicamente o seu amor, de partilhar com todos o seu sentimento, como se, ao torná-lo público, o validasse e lhe desse eterna forma. Como diz Pablo Neruda: «amo-te assim porque não sei amar de outra maneira».

Muito conhecidas são as obras escritas sobre esta temática e muito famosas as mulheres amadas, desde a trágica Julieta de Shakespeare, ou a Laura de Petrarca à Beatriz de Dante. Também na pintura as declarações de amor através da representação da mulher amada são reconhecidas, como no caso da Gala de Dalí, ou a Simonetta de Botticelli. Muito famosos são também os pares românticos na ópera, como é o caso de Tristão e Isolda, Orfeu e Eurídice, ou Dido e Eneias.

Na realidade, se observamos as manifestações artísticas do Homem ao longo da história, verificamos que o amor é uma temática sempre presente. No entanto, nas nossas vidas, no nosso dia-a-dia, acabamos por perder a inspiração e não viver tanto o amor pelos amigos, pela família, pela pessoa amada, por tudo aquilo que mais valorizamos. Acaba, no fundo, por faltar-nos mais amor…

Escrito em parceria com o blogue da Letrário, Translation Services