Fernando Ulrich diz que quem pagou o resgate aos bancos não foram os contribuintes

Presidente do BPI diz que quem pagou o resgate aos bancos foram os acionistas e não os contribuintes. Declarações polémicas na semana em que avançou a OPA do CaixaBank.

Fernando Ulrich diz que quem pagou o resgate aos bancos não foram os contribuintes

Em 16 anos, cinco dos maiores bancos portugueses – CGD, BCP, BES/Novo Banco, Banif e BPN – destruíram cerca de 35 mil milhões de euros em capital injetado pelos seus acionistas. As contas são do BPI e representam 19% do Produto Interno Bruto (PIB) estimado para 2016. Um valor que é visto pelo presidente do banco como «uma história de destruição de capital brutal», dizendo ainda que é uma «verba verdadeiramente colossal». 

Mas o presidente do BPI vai mais longe ao garantir que «é uma mentira» dizer que estes custos foram pagos pelos contribuintes e não pelos acionistas. E fez as contas: o Estado terá tido perdas entre oito mil e 10.400 milhões de euros com o sistema bancário entre 2001 e 2017 – com  aumentos de capital na Caixa Geral de Depósitos, Banif e BPN e ainda garantias de Estado, ajuda estatal para capital dos bancos e empréstimos ao fundo de resolução bancário, sobretudo para o Novo Banco – e ganhos de 3.969 milhões de euros. Isto significa que as perdas líquidas dos contribuintes rondam os 4.400 a 6.400 milhões de euros. 

Ulrich disse ainda estar preocupado com o que tem visto e ouvido na comunicação social, nomeadamente declarações de comentadores, que passam a mensagem de que os contribuintes é que têm pago os problemas na banca. «É mentira», revelou, dizendo também «no que toca ao sistema bancário e ao esforço para estabilizar o sistema financeiro português quem fez esforço e teve perdas foram os acionistas. Estes números mostram que sucessivos Governos protegeram bem os interesses dos contribuintes», afirmou.

OPA dos catalães avança 

As contas de Ulrich surgiram um dia depois do CaixaBank ter avançado com a Oferta Pública de Aquisição (OPA) sobre o BPI, após a Comissão de Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) ter dado luz verde à operação. O banco catalão, que oferece 1,134 euros por cada ação, quer reduzir os custos anuais no BPI até 84 milhões de euros, em que mais de metade virá de poupanças com trabalhadores, deixando em aberto uma possível redução de 900 postos de trabalho. «O rácio de gastos com pessoal por receitas da sociedade visada (BPI) em 2015 é de 44%, enquanto o dos seus pares domésticos se situa num nível de 35%. O ajuste deste rácio de 44% da sociedade visada para os referidos 35% dos seus pares domésticos equivaleria a uma redução de 900 trabalhadores», revela o prospeto. 

Em maio do ano passado, a oferta de aquisição do BPI pelo CaixaBank já tinha implícita a saída de cerca de mil trabalhadores, segundo as contas do conselho de administração do banco. A redução de pessoal, segundo a informação divulgada na altura e citando a proposta do oferente, seria conseguida dando prioridade a reformas antecipadas e layoffs incentivados. Esta estratégia será mantida agora. 

Já em termos de redução de balcões, o documento não prevê cortes além dos que foram implementados, referindo que o BPI «tem vindo a reduzir a sua rede de balcões em Portugal até aos atuais 545. Mais concretamente, 52 balcões em 2015 e 52 adicionais até setembro de 2016» e, a manter-se esta tendência em 2017, não está previsto o encerramento adicional de balcões. 

Além disso, o banco catalão pretende manter o BPI independente após a operação, mantendo uma linha geral de continuidade no que diz respeito  às suas atividades. Mas já em relação à liderança a situação vai mudar. Para já, promete continuar a apoiar a atual equipa do BPI, mas já acena com mudanças na administração do banco, nomeadamente para receber representantes do banco catalão.