Debate animado no Parlamento. Até o ‘diabo’ apareceu

O debate quinzenal desta sexta-feira ficou marcado pelos ânimos exaltados e a troca de acusações entre o líder da oposição, Passos Coelho, e o primeiro-ministro, António Costa.

Enganou-se quem esperava que o debate ficasse centrado pelas siglas do momento TSU (Taxa Social Única) e PEC (Pagamento Especial por Conta). A discussão hoje foi outra.

Passos Coelho não largou o tema do défice, acusando o Governo de ter uma política de “fantasia” e de “faz de conta” em relação ao assunto.

Em causa está a diferença nas contas. É que Passos Coelho põe o défice de 2016 nos 3,4% e não nos 2,3%, anunciados esta quinta-feira pelo Ministério das Finanças.

O líder do PSD insistiu na pergunta sobre o valor do défice sem as medidas extraordinárias. Mas Costa não respondeu diretamente sublinhando que se tratava do valor mais baixo desde 1974.

Passos insistiu pela terceira vez e o primeiro-ministro esboçou um sorriso e atirou: “Terá a resposta quando o diabo cá chegar”. Do lado da bancada do PSD ouviram-se protestos, o que obrigou a uma interpelação do presidente da Assembleia.

O deputado social-democrata Carlos Abreu Amorim gritou: “Tenha vergonha senhor primeiro-ministro, tenha vergonha".

Sérgio Azevedo, vice-Presidente do Grupo Parlamentar do PSD, não se ficou pelo Parlamento e recorreu ao Facebook para demonstrar a sua indignação.

Ferro Rodrigues tentou acalmar os ânimos, lembrando que os deputados são livres de perguntar e que quem responde pode escolher fazê-lo ou não. “Atenção à mobília”, disse ainda o presidente da AR.

A frase de António Costa é uma referência a uma expressão que Passos terá usado numa reunião de bancada em julho de 2016. “Gozem bem as férias que em setembro vem aí o diabo”, terá dito.

Mas a TSU e o PEC, emboram não tenham sido o cerne do debate, também foram utilizados como arma na troca de galhardetes. O líder da oposição sublinhou que se o Governo quer ter o apoio do PSD na descida do PEC, medida para compensar o chumbo da baixa da TSU, tem de haver discussão com os sociais-democratas. “Quando precisar do PSD primeiro peça, se faz favor", disse.

O primeiro-ministro respondeu, acusando o PSD de ser irrelevante. “Não será graças ao PSD que os trabalhadores verão aumentado o salário mínimo nacional, nem será graças ao PSD que as empresas verão diminuídos os seus custos fiscais”, afirmou Costa.