Pedro Rodrigues: ‘Pelo que tenho visto, no lugar de José Eduardo Martins, demitia-me’

O ex-líder da JSD diz-se disponível para ajudar o partido nas autárquicas e não perdoa a distrital pela situação em Lisboa. Não houve ‘oposição efetiva’. E é o ‘futuro do PSD’ em jogo.

Pedro Rodrigues: ‘Pelo que tenho visto, no lugar de José Eduardo Martins, demitia-me’

Recentemente, José Eduardo Martins afirmou que se demitiria se fosse líder do PSD e o partido tivesse menos câmaras municipais que o PS nas eleições autárquicas deste ano. Também se demitia? 

Se o resultado autárquico for tenebroso, óbvio que me demitiria. Quando o líder de um partido está na oposição, os principais objetivos têm que ser reconstruir o partido para ganhar eleições nacionais. Essa reconstrução passa necessariamente por uma vitória autárquica.

Mas vê essa vitória autárquica acontecer?

Vejo que para essa vitória acontecer, os principais responsáveis do PSD têm que estar disponíveis para irem às câmaras municipais. Aparentemente, não estão. 

Quando diz que o sucesso nacional deste líder depende de um bom resultado autárquico, conclui que um bom resultado nas legislativas é difícil? 

Eu não digo que seja improvável, digo que para o resultado existir é fundamental que o PSD recupere influência nos centros urbanos. A realidade é que se assistiu nos últimos quatro anos a um afastamento progressivo, particularmente em Lisboa, sem oposição efetiva. Aí a culpa não pode ser dos presidentes de junta; é a distrital que tem que ser responsabilizada. 

Porquê?

Não fez oposição, não fez trabalho de desgaste político a um candidato que ainda por cima era sofrível. Duvido que Medina saiba o melhor caminho do Rato a Alvalade. Não tem ligação a Lisboa ou aos lisboetas e agora parece imbatível devido à ausência de rumo e discurso do PSD. 

E aí culpa a distrital?

Quanto temos um coordenador de programa autárquico [José Eduardo Martins] que tem a responsabilidade de centrar o seu trabalho no desgaste ao presidente da Câmara e preparar um programa com a sociedade civil, pelo que eu tenho visto, no lugar dele já me tinha demitido. 

Crê que para as legislativas correrem bem, as autárquicas não podiam correr mal?

As autárquicas são fundamentais para o PSD reforçar a sua influência. Sempre que ganhámos legislativas partimos de um resultado autárquico: 2002, com Durão Barroso, por exemplo. Todos estiveram disponíveis para ir a votos.

E o Pedro Rodrigues está disponível?

Estou muito à vontade. Eu não sou membro da direção nacional do partido, não sou deputado, não fui membro do governo…

Foi chefe de gabinete desse governo.

A minha vida profissional é sólida há muitos anos e isso permite-me uma distância da política. Mas nunca me escudei em qualquer cálculo pessoal para dizer que não ao meu partido. Por essa razão estive disponível para ser chefe de gabinete de Miguel Poiares Maduro, função que me honrou. E obviamente que estou disponível para qualquer combate político e autárquico em que o partido considere útil. Faz-me confusão os que são conhecidos por ‘barões’ terem dado bem menos ao PSD que o PSD lhes deu a eles.

Mas acredita que o partido mudou?

Não vejo ninguém disponível para os combates difíceis. O PSD nasceu e cresceu de baixo para cima, das freguesias para os concelhos, das distritais para o país. Foi assim que ganhámos maiorias absolutas. Não somos um partido só de Lisboa ou dos corredores da Assembleia ou da São Caetano à Lapa. A maioria dos dirigentes de hoje está disponível para ir para governo ou para deputado e não é esse PSD em que eu acredito. 

Já criticou a falta de oposição de Pedro Passos Coelho. Não estamos a assistir a uma mudança de estratégia, com o chumbo da TSU? 

O dr. Passos Coelho mudou o estilo de oposição. Isso é óbvio.
Mas bem ou mal?

O PSD tem que descolar da ‘geringonça’, sim. Não pode é também descolar do seu eleitorado. O dr. Passos Coelho, que é conhecido por não mudar de opinião, desta vez mudou. E não escolheu o momento certo para o fazer. É verdade que o dr. António Costa fez uma chantagem política com o PSD, encurralando-o entre a TSU e a concertação social. 

Não é o dr. Costa que está encurralado entre os parceiros sociais e a ‘geringonça’? 

Isso com certeza e o PSD esteve muito bem em alertá-lo. Mas fazer tática política com matéria de princípios, não. A matéria da TSU e a concertação social são património do PSD. Não podemos romper com as pequenas e médias empresas.

Não é mais importante romper a ‘geringonça’ do que romper um acordo de concertação social?

É importante romper com a ‘geringonça’, mas não podemos romper com o nosso eleitorado. 

E é possível fazer ambos, ao mesmo tempo e a curto prazo? 

O PSD não pode chumbar medidas apenas porque elas foram propostas pelo Partido Socialista.

Mesmo que isso chumbe o governo minoritário de Costa?

A posição histórica do PSD foi estar ao lado do país e dos portugueses quando a história assim o exigiu. Aprovámos vários orçamentos do eng. Guterres. Não podemos chumbar medidas em que nós próprios acreditamos.

Passos Coelho acredita naquela medida?

Propô-la várias vezes. Não podemos ser a muleta da ‘geringonça’, mas também não podemos transformar o parlamento num ringue de boxe. A postura tem que ser responsável, com apresentação de propostas. 

Como é que vamos de criticar Passos por não fazer nada para criticá-lo quando ele se mexe? 

O PS está num processo de radicalização em curso, o centro está totalmente desguarnecido e o PSD tem que representar esse centro. A preocupação não devia ser a tática política, devia ser ganhar as autárquicas. São determinantes para o futuro do PSD.