França. Polícia realizou buscas na Assembleia Nacional

Alegado ‘trabalho-fantasma’ da mulher de François Fillon levou a polícia a procurar provas no parlamento

Numa altura em que faltam cerca de três meses para a primeira volta das eleições presidenciais em França, François Fillon começa a ver seriamente ameçado o seu estatuto de ligeiro favorito à vitória final. Se no início da semana foi chamado para interrogatório, juntamente com a esposa, pela justiça francesa, hoje ficou a saber que a polícia realizou buscas na Assembleia Nacional. 

Em causa está a abertura de um processo preliminar ao candidato presidencial, por parte do Tribunal Central de Combate às Infrações Financeiras e Fiscais, relacionado com o cargo exercido pela mulher de Fillon no parlamento francês e pelo qual recebeu cerca de 500 mil euros do Estado. Penelope Fillon foi contratada pelo marido em 1998, para assistente parlamentar – uma prática conforme com a legislação francesa e relativamente costumeira naquele país – e quando Fillon passou de deputado para membro do governo, em 2002, viu o seu contrato ser renovado pelo parlamentar que o substituiu. 

Todo o percurso de Penelope, enquanto assessora, era público e legal, pelo que nunca foi um assunto referido na campanha de Fillon rumo ao Eliseu. Mas o “Le Canard Enchaîné” resolveu investigar o trabalho realizado pela esposa do candidato d’Os Republicanos e levantou as primeiras suspeitas sobre o facto de se tratar de um emprego fictício.

Segundo uma investigação realizada por aquele jornal satírico, a mulher de Fillon raramente vista foi na Assembleia Nacional, em mais de 8 anos, e não existem provas do trabalho realizado. Para além disso, o “Canard Enchaîné” falou com membros da equipa à qual Penelope pertencia, que confessou “nunca ter trabalhado” com ela e que apenas a conhecia “como mulher do ministro”.  

François Fillon sempre se apresentou aos franceses como um político transparente e foi nesse registo que criticou duramente o sistema instalado e os seus adversários nas primárias do partido conservador – Alain Juppé e Nicolas Sarkozy – envolvidos em diferentes escândalos políticos ou de corrupção. Resoluto em manter esse perfil, anunciou, na semana passada, que se for indiciado pelo uso inapropriado de fundos públicos, renunciará à corrida presidencial.

Independentemente do que a justiça vier a decidir ou de que a polícia possa concluir, após as buscas, a imagem de Fillon tem saído muito prejudicada de todo este rebuliço. Segundo um inquérito realizado em França e apresentado pelo “El País”, apenas 38% dos seus participantes têm uma opinião positiva sobre o candidato d’Os Republicanos.