Maria de Belém. “Sempre considerei que aprendemos mais com as coisas más do que com as boas”

Depois da derrota nas presidenciais, remeteu-se ao silêncio. E se o quebra agora é para falar de igualdade de género. Mas não só, porque a política corre-lhe nas veias

Foi um ano de silêncio. Lamber feridas de uma derrota duríssima nas eleições presidenciais de janeiro de 2016, em que acabou em quarto lugar. Durante este ano, Maria de Belém manteve-se atenta, mas discreta. Mais ainda do que sempre foi usual em si. Recentemente regressou à Comissão Política do PS, mas é em fazer vingar a Declaração Universal de Igualdade de Género apresentada por Portugal à UNESCO e da qual é embaixadora que está empenhada. Até porque a sua vida fez-se sempre de mulheres fortes. E é tempo que a igualdade não seja apenas palavra bonita no papel.

Saiu agora mesmo de um almoço-debate em que o orador convidado foi o Ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes. O que destacaria da sua intervenção?

O facto de haver uma estratégia é muito bom. Eu iniciei o pensamento estratégico no Ministério da Saúde, mas ele foi abandonado em alguns mandatos e é bom ver que há agora uma aposta clara numa estratégia. Isso, para mim, é premonitor de sucesso. A saúde precisa desta noção de projeto, porque depende de múltiplos fatores – até depende menos dos serviços de saúde do que as pessoas pensam. Tem que ver com as nossas escolhas, com o nosso ambiente cultural, com as determinantes sociais e económicas. E se há uma coisa que as pessoas não se apercebem é que os períodos de crise, sobretudo acompanhados por uma elevada taxa de desemprego, são muito propiciadores de má saúde para as pessoas e de muita desestruturação.

Estamos a assistir à discussão da eutanásia, que é um dos últimos temas fraturantes.

Pois é. É algo que tem a ver com o entendimento do princípio da autonomia do doente e até onde este vai. No nosso país, ao contrário de outros onde já foi tomada a decisão de avançar no sentido da disponibilização ou pelo menos não criminalização da eutanásia, ainda nos falta dar alguns passos, designadamente termos uma rede de cuidados paliativos acessível a quem queira dela beneficiar. Esse é um passo que deve estar garantido para que depois tenhamos a certeza que há realmente uma livre escolha da pessoa e não uma medida de recurso porque aquilo que deveria funcionar não funcionou.

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