Assunção Cristas precipitou-se

A guerra psicológica serve para derrotar o moral, o ânimo, para vergar o inimigo.

 Também é usada na política, exatamente para o mesmo fim. Sobre a Câmara de Lisboa, todos os dias, nos jornais, nas televisões, dizem que Fernando Medina já ganhou as eleições e que o PSD já as perdeu. 

Vamos então analisar a propaganda que é usada e confrontá-la com os factos.

1. Diz-se que a campanha eleitoral em Lisboa está muito atrasada. Ora em 2001, com uma candidatura anunciada em março, Pedro Santana Lopes derrotou o incumbente João Soares e a coligação PS/PCP ‘Amar Lisboa’. E, em 2009, o mesmo Santana Lopes começou a campanha eleitoral em fevereiro, para umas eleições que tinham lugar em outubro. Conclusão: não há atraso.

2. Afirma-se que ser presidente em exercício é uma grande vantagem. António Costa foi a eleições em Lisboa em 2009 e em 2013. Em 2013, quando estávamos no auge da crise e da austeridade, Costa candidatou-se à presidência. E teve menos votos do que tivera em 2009. Perdeu votos. Portanto, ser presidente não assegura mais votos. 

3. Declara-se que Lisboa é de esquerda. Em 2015, para as eleições legislativas, os dois cabeças de lista em Lisboa foram Pedro Passos Coelho e António Costa. Passos Coelho ganhou. O primeiro-ministro dos anos de chumbo da troika ganhou ao popular presidente da câmara. A direita ganhou, a esquerda perdeu em Lisboa.

4. Em 2016, para as eleições presidenciais, já com o Governo da ‘gerigonça’ em funcionamento, Marcelo Rebelo de Sousa ganhou as eleições em Lisboa. Ganhou contra os candidatos do PS, Sampaio da Nóvoa e Maria de Belém, e os restantes candidatos da esquerda. É, pois, falso que Lisboa seja de esquerda, como o demonstram as duas últimas eleições. 

5. Os media puxam muito por Fernando Medina. Tem, por exemplo, um programa semanal na TV, sem contraditório. Porém, Fernando Medina vai concorrer sozinho. Apesar dos vários e insistentes apelos nesse sentido, e de um Governo do PS suportado pelo PCP, BE e Verdes, em Lisboa não vai ser assim. Cada partido apresenta candidatura própria. Medina falhou na grande coligação das esquerdas na capital.

6. Os media também puxam muito por Assunção Cristas. É uma candidata muito acarinhada pela comunicação social, sobretudo para chatear os ‘laranjinhas’. Escreve-se que terá uma votação na casa dos dois dígitos. Ora, isso é altamente improvável. Os candidatos dos partidos normalmente têm as votações dos seus partidos. Assunção Cristas vale em urna o que o CDS vale. Muito dificilmente chegará aos 7,5% que Paulo Portas teve em 2001. A última vez que o CDS teve um candidato que ultrapassou largamente a respetiva fasquia foi com Lucas Pires.

7. Defende-se que o PSD estava obrigado a apoiar o CDS. Assunção Cristas adotou a atitude de «Eu vou, quem quiser venha também». Ora, essa atitude impositiva e voluntarista não facilitou nenhum entendimento partidário com o PSD. Assunção Cristas precipitou-se. 

Os factos desmentem, pois, a propaganda. Medina pode ganhar a CML? Pode. Mas também pode perder. Sobretudo nos debates na TV durante a campanha – para os quais não tem jeito.