La Geringonce anti-européenne

A líder partidária defende a saída do Euro e dos acordos de comércio internacional. Defende também que a banca deve estar ao serviço do povo e os bancos centrais devem financiar diretamente o orçamento de estado. Ela quer impedir investidores estrangeiros de controlarem empresas de setores estratégicos como a energia, os transportes ou a banca.…

A líder partidária defende a saída do Euro e dos acordos de comércio internacional. Defende também que a banca deve estar ao serviço do povo e os bancos centrais devem financiar diretamente o orçamento de estado. Ela quer impedir investidores estrangeiros de controlarem empresas de setores estratégicos como a energia, os transportes ou a banca. Na frente interna, promete reduzir os preços do gás e eletricidade, entre outros bens essenciais. Promete também diminuir a idade da reforma e lutar pelas 35 horas semanais. Sem surpresa, é uma líder bastante popular entre a classe operária. Não, não estou a falar de Catarina Martins, nem de qualquer deputada do PCP ou do PS. Falo de Marine Le Pen, a candidata da extrema direita francesa às presidenciais. 

A candidata da Frente Nacional é conhecida pelas suas posições anti-imigração, mas também por políticas económicas do agrado do eleitorado mais à esquerda. Foi uma das líderes partidárias que se congratulou com a vitória do Syriza na Grécia. Estas aproximações podem parecer paradoxais, mas não são. Há muito mais a unir a extrema esquerda à extrema direita do que a separá-los. Partilham o mesmo estilo populista de fazer política, as mesmas ideias para a economia, o mesmo isolacionismo e a mesma aversão pela União Europeia. Esta espécie de ‘Geringonça anti-UE’ que junta nacionalistas (que não entendem que o poder de uma nação também passa pela capacidade de fazer sólidas alianças externas) e socialistas (que não entendem que a austeridade fora do Euro teria sido muito mais dolorosa do que foi), é muito mais sólida do que o que se pensa. Se ganhar as eleições, Marine Le Pen será a líder natural deste movimento. 

Por cá, temos cerca de 20% do eleitorado a votar em partidos que se juntariam alegremente a essa ‘Geringonça anti-UE’. Pior do que isso, temos um PS que não hesitou em colar-se à vitória do Syriza e cujo porta-voz ainda há uns meses lembrava que pertencia ao Partido Socialista e não ao ‘Partido Europeísta’, dando a entender que se a União Europeia não decidir conforme os seus desejos (leia-se, enviar dinheiro sem exigências), o PS se poderia juntar às forças mais extremistas. 

Portugal é um país pequeno e periférico, fortemente dependente do comércio internacional para o seu desenvolvimento económico. Um bom indicador disso é o facto de nos últimos 100 anos só ter convergido de forma consistente com a Europa em dois períodos: nos anos 60 a seguir à entrada na EFTA e nos anos 80 e 90 a seguir à entrada na CEE. Quando se isolou ou negligenciou o setor exportador, o país ficou mais pobre. Mesmo nas alturas em que empobrecia, foi na Europa que muitos portugueses procuraram a fuga ao desemprego e à miséria. 

O projeto europeu deu muitos passos em falso, andou demasiado depressa e provavelmente foi mais longe do que poderia ter ido. Mas quando a única alternativa política ao projeto europeu é esta ‘geringonça’ de populistas, xenófobos, comunistas e lunáticos em geral, a escolha é óbvia.