Montepio Geral: risco acrescido

Escrever sobre bancos é sempre complicado, porque o dar-se notícias negativas pode agravar desnecessariamente a situação, como aconteceu com o Banif. Por outro lado, não se pode ficar sempre calado, ignorando o elefante no meio da sala.

E o Montepio é, atualmente, esse elefante. Segundo o Público de hoje, o detentor do capital do Montepio, a Associação Mutualista Montepio Geral, está em situação de falência técnica, isto é, tem os passivos maiores que os ativos. Isso não quer dizer que esteja insolvente, isto é, que seja incapaz de honrar os seus compromissos financeiros.

Quanto ao banco propriamente dito, neste momento, dá prejuízo. Provavelmente, este ano deverá desfazer-se de parte das suas atividades, e vender também parte do seu crédito malparado, a preço de saldo, a empresas como a que tem nos seus quadros a ex-ministra das finanças Maria Luís Albuquerque.

Da conferência de imprensa que deu hoje, o presidente da Associação Mutualista, Tomás Correia, revelou aceitar ser supervisionado pelo regulador dos seguros. Perdão? Então se o seu principal ativo é o sexto maior banco português, porque não ser supervisionado pelo Banco de Portugal?

Proprietário em falência técnica, confusão na supervisão, prejuízos acumulados. Se eu neste momento aceitava tornar-me cliente do Montepio? Não, não aceitava.

Isto significa que deve ir a correr levantar o seu dinheiro? Não necessariamente. Se tem menos de 100.000 euros em depósitos, não se deve inquietar, pois estão assegurados pelo fundo de garantia de depósitos. Se tem mais de 100.000 euros, deve seguir a regra nº 1 do investimento, que é “não guardar todos os ovos no mesmo cesto”. Mas atenção, porque a garantia dos 100.000 euros aplica-se a todo o dinheiro que tiver no sistema bancário português: são 100.000 euros garantidos no total, não é por banco.

E, sobretudo, há uma coisa que deve ter consciência: é que, se estiver a comprar produtos financeiros da Associação Mutualista, mesmo que lhe sejam vendidos através dos balcões do Montepio, está a comprar produtos de uma sociedade em falência técnica. Isso não é o fim do mundo: as SAD’s dos grandes clubes desportivos portugueses estão em falência técnica (dos três grandes estão todas, se não estou enganado), e não é por isso que os rapazes deixam de dar pontapés na bola. Simplesmente, convém ter consciência que, para usar a expressão do Banco de Portugal, corre um risco acrescido.