Montepio. “O maior risco são as operações cruzadas com a associação”

Presidente do Sindicato do Sul e Ilhas admite que a contaminação das más contas da associação pode refletir-se nas contas do banco

A Caixa Económica Montepio poderá sair prejudicada com a situação financeira do seu acionista, a associação mutualista, devido “à existência de um conjunto muito largo de operações cruzadas”, revela ao i o presidente do Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas, Rui Riso, em reação ao buraco de 107 milhões de euros nas contas relativas a 2015.

“Há sempre o perigo de a contaminação das más contas da associação mutualista poder refletir-se nas contas do banco. Em circunstâncias normais, isso não aconteceria – uma coisa é o banco, outra são os donos do banco –, mas estamos a falar de um projeto diferente e com regras mutualistas”, salienta.

Ainda assim, admite que a separação das duas entidades imposta pelo Banco de Portugal poderá atenuar esse risco. “Há aqui algumas similitudes, mas acredito que não vai acontecer o que aconteceu ao BES porque os dois já estão separados. Já houve o registo de algumas imparidades, embora ainda existam algumas por registar”, salienta Rui Riso, e lembra que tem essa informação detalhada porque o sindicato esteve no final do ano passado a negociar com o banco um acordo de contenção salarial.

“Essa limitação salarial foi imposta para que pudesse contribuir de alguma maneira para o saneamento financeiro do banco. Saí das reuniões com a convicção de que as coisas não corriam mal”, diz ao i.

Mudança de nome

Para já, o presidente da Caixa Económica, Félix Morgado, desvaloriza as dificuldades financeiras da instituição e elenca as medidas que estão a ser tomadas para reforçar a solidez financeira do banco: a transformação em sociedade anónima, cujo único acionista será a associação mutualista; a venda de crédito malparado no valor de mil milhões de euros; a continuação do processo de venda de imóveis e a redução da exposição da instituição ao Finibanco de Angola e ao Banco Terra, de Moçambique.

Outra alteração diz respeito aos balcões da instituição financeira, que deverão passar a ter outra designação nos próximos meses devido a uma imposição do Banco de Portugal. A ideia é separar a marca do banco da associação mutualista, que é dona da instituição financeira.

“É um tema que tem de ser estudado porque a marca Montepio tem um grande valor de mercado. É, por outro lado, um dos grandes ativos que permite identificar os clientes com a associação mutualista, casa-mãe, e com a caixa económica. Parece mais provável que a adaptação seja feita ao nível da caixa económica”, revelou Félix Morgado ao “Jornal de Negócios”.

Já quando questionado acerca da dependência da caixa económica face à associação, o presidente do banco responde que “a casa-mãe tem todo o capital da caixa económica” e “não toma títulos de dívida da caixa económica”. Ainda assim, a caixa económica garante que “não tem qualquer crédito concedido à associação mutualista”.

Além disso, se houver algum problema, a “associação tem um património mais do que suficiente para poder acorrer se houver necessidades pontuais de capital da caixa económica”, defende. Se tal não for possível, Félix Morgado não antevê a abertura de capital a outros investidores.

Também Tomás Correia já veio garantir que, para 2017, o plano de negócios aponta para resultados positivos e “interessantes” no setor segurador e bancário. “Estamos a falar de resultados na ordem dos 50/60 milhões de euros na banca. A associação mutualista tem uma situação muito confortável a nível das contas.” O responsável afasta, assim, a necessidade de haver novos aumentos de capital por parte da associação mutualista.

Face ao cenário de falência, mesmo com a quebra dos capitais próprios, a associação garante que tem solidez financeira para fazer face às responsabilidades, nomeadamente perante os mutualistas. Ainda assim, houve uma quebra no rácio de cobertura, que passou de 1,17 para 1,052, em ambos os casos cobrindo a totalidade das responsabilidades.