Holanda dá mais força à geringonça

Socialistas convictos que desaire eleitoral do PvdA prova que decisão do PS de «não viabilizar Governo de direita estava certa».

O desastre eleitoral do centro-esquerda na Holanda não surpreendeu os socialistas portugueses. O PS vê a descida do PvdA, que caiu de 38 para apenas 9 deputados, como a prova de que o caminho seguido por António Costa está correcto, porque quando a esquerda se confunde com a direita está destinada ao fracasso. 

João Galamba, porta-voz do PS e deputado, defende, em declarações ao SOL, que «este caso só mostra que ou a social-democracia tem um projecto autónomo, que se distingue claramente perante os eleitores da direita, ou se é apenas um auxiliar dessa mesma estratégia será seriamente penalizada nas urnas. Isso aconteceu na Grécia, aconteceu na Holanda, e acontecerá em todos os países onde essa estratégia errada se repetir». 

O socialista acredita que as eleições na Holanda dão força à geringonça, ou seja, à decisão do PS de não viabilizar um Governo de direita e aliar-se à esquerda. «O contraste entre os dois casos é cristalino. Muita gente disse que o Partido Socialista devia viabilizar um Governo de Passos Coelho, mas o entendimento da direcção do PS foi o oposto e os resultados eleitorais do partido social-democrata holandês mostram o erro cometido na Holanda e o acerto da decisão portuguesa». Para o deputado socialista, «o que aconteceu ao partido social-democrata holandês foi que, no meio de uma crise e no meio da austeridade, decidiu viabilizar e apoiar um Governo liderado pelo seu maior adversário e obviamente que isso teve consequências nas urnas. Este resultado mostra que a decisão do PS português de não viabilizar um Governo de direita estava certa».

PS condenado à extinção se alinhasse com Passos

O partido de Jeroen Dijsselbloem, ministro das Finanças no Governo de coligação e presidente do Eurogrupo, passou de segundo mais votado para sétimo. Uma hecatombe que levou muitos socialistas a recordar a acesa discussão que se abriu no PS, a seguir às legislativas de 2015. Alguns defendiam que António Costa, após a derrota eleitoral, devia integrar o Governo de Passos Coelho e Paulo Portas. O líder do PS optou por virar-se para a sua esquerda e, pela primeira vez, os socialistas fizeram um acordo com o PCP e o Bloco de Esquerda. Carlos Zorrinho não foi dos mais entusiastas com o acordo à esquerda, mas considera que os resultados das eleições holandesas «provam que se o PS tivesse aceite fazer parte como parceiro minoritário do Governo do PSD estava condenado à extinção». 

Ao SOL, o eurodeputado socialista considera que o caso holandês, em que o PvdA alinhou com a austeridade, é a prova de que o eleitorado europeu rejeita os partidos sociais-democratas que funcionam como «bengalas de políticas que não são da sua matriz». O desastre eleitoral dos sociais-democratas do Partido Trabalhista foi acompanhado pelo enorme crescimento da Esquerda Verde, que ganhou 10 deputados. «O que significa que continua a haver um potencial, forte à esquerda na Europa», conclui o eurodeputado socialista. 

A tese de que os socialistas não podem alinhar com a direita mereceu vários comentários de dirigentes e deputados do PS. Porfírio Silva, que pertence à direcção do PS, defende que «os sociais-democratas holandeses pasokaram», porque «já ninguém entende porque é que eles se acham sociais-democratas». O eurodeputado e ex-ministro Pedro Silva Pereira, na TVI 24, admitiu que o colapso eleitoral do PvdA é «inteiramente merecido», porque traiu a «identidade da família social-democrata». Tiago Barbosa Ribeiro, deputado e líder do PS/Porto, justifica o que classifica como uma «tareia eleitoral» com o facto de «este partido pensar e actuar como a direita». 

Pedro Alves, num artigo no SOL (ver página 34)  justifica a «implosão da social-democracia tradicional» com «a adesão à agenda do seu parceiro de coligação liberal-conservador».

O Governo português congratulou-se com os resultados das eleições holandesas por ter sido derrotada a força que propunha «romper com a União Europeia». O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, disse à agência Lusa que «a força que claramente exprime a vontade de romper com a União Europeia e, sobretudo, de romper com o modelo económico e social que subjaz à União Europeia, que era o partido do senhor Wilders, foi clamorosamente derrotada». 

Santos Silva está optimista e acredita que os eleitores europeus vão continuar a optar pelos partidos que «preferem continuar com a Europa, com a democracia, com a tolerância e com o modelo social»