Tolerância zero para mais tropeções na Liga das surpresas

A pausa para as seleções surge no momento em que o campeonato se aproxima das decisões finais. O clássico na Luz do próximo dia 1 de abril será importante para avaliar o estofo dos dois candidatos, e é o Benfica quem mais tem a perder: o histórico recente indica que o perseguidor, se consegue a…

Concluída a jornada das surpresas, o campeonato nacional entra agora num merecido interregno para seleções – e, convenhamos, já fazia falta, depois de tanta polémica e conversa de café/redes sociais sobre o penálti que ficou por marcar, o fora-de-jogo que só o bandeirinha viu, o amarelo que tinha de ser vermelho… Enfim: tudo menos o futebol que interessa, que empolga e apaixona multidões há mais de 100 anos.

E esta pausa chega também no momento certo para Benfica e FC Porto recarregarem baterias para os oito jogos que faltam até ao fim da prova. O foco, claro, está já no próximo, a opor precisamente líder e perseguidor na Luz. Nada se irá decidir para já, seja qual for o desfecho – essa é uma certeza cada vez mais indesmentível: os jogos (e os campeonatos) só se decidem no fim – e é unicamente nesse preciso momento que os favoritismos se confirmam. E, quando alguém se esquecer disso, haverá sempre um Kelvin, um Leicester, um Eder para o recordar…

Mas, agora que há tempo para respirar – e enquanto a seleção do milagreiro Fernando Santos não entra em cena –, é altura de ver o que separa águias e dragões quer na caminhada feita até esta altura, quer no que falta jogar.

Calendário apertado Para já, uma curiosidade: o Benfica está precisamente com os mesmos pontos da época passada por esta altura. O que equivale a dizer que já não conseguirá fazer melhor: se conseguisse vencer todos os oito jogos que faltam, faria exatamente os mesmos 88 pontos com que terminou o último campeonato – e que configurou um máximo histórico. Já o FC Porto tem, neste momento, mais cinco pontos do que somava à 26.a jornada da última temporada.

As águias somam nesta Liga quatro empates e duas derrotas. Antes do nulo em Paços de Ferreira tinham sido travadas em plena Luz por Vitória de Setúbal (1-1) e Boavista (3-3), arrancando ainda um precioso 1-1 no Dragão. As derrotas aconteceram ambas fora de portas: nos Barreiros, com o Marítimo (1-2), e em Setúbal (0-1). Os sadinos, de resto, conseguiram a proeza de não perder qualquer encontro com Benfica e FC Porto: empataram os dois jogos com os dragões (0-0 em Setúbal e 1-1 no Dragão, no passado domingo).

Para os portistas, o pecado maior está mesmo nos empates, pois averbaram até à data apenas uma derrota, em Alvalade, logo à terceira jornada (1-2). Pelo contrário, já empataram seis vezes: às três igualdades já referidas com Vitória de Setúbal e Benfica somam ainda mais três nulos, todos fora – Tondela, Belenenses e Paços de Ferreira.

Olhando ao calendário, as opiniões dividem-se agora. Há quem defenda que o tricampeão em título tem a vida mais dificultada, pois ainda terá de defrontar dois grandes: o FC Porto, nesse escaldante clássico na Luz a 1 de abril, e o Sporting, em Alvalade – além de mais três deslocações incómodas: Moreirense, Rio Ave e Boavista, na última jornada.

Por seu lado, no que respeita a clássicos, os dragões “só” têm de ir à Luz, já na próxima ronda. No entanto, ainda terão mais quatro saídas depois dessa… e nenhuma delas é especialmente convidativa: Braga, Chaves, Marítimo e Moreirense, todas elas historicamente complicadas.

O líder que se cuide… A tendência, nos últimos anos, tem sido incontornável: quando o líder falha numa fase tão adiantada da época, normalmente… morre. O exemplo mais recente fez agora um ano: ao vencer em Alvalade, mercê de um golo solitário de Mitroglou, o Benfica de Rui Vitória consumou a ultrapassagem ao Sporting de Jorge Jesus à passagem da jornada 25 e não mais largou a liderança, contando por triunfos os nove jogos que se seguiram.

Mas, se em 2015/16 foram as águias a sorrir, duas foram as ocasiões imediatamente anteriores em que tal não sucedeu. Antes pelo contrário. Em 2012/13, ficou tudo por decidir (quase) até ao fim: Benfica e FC Porto entraram na jornada 29 separados por apenas dois pontos, com as águias na frente. Pormenor importante: havia FC Porto-Benfica, no Dragão, nessa penúltima ronda. E o desfecho foi aquele que todos recordarão por muitos e muitos anos – e que está imortalizado no museu azul-e-branco com um espaço só para si: o K, de Kelvin, relativo ao golo no minuto 92 que fez Jesus ajoelhar-se e Vítor Pereira festejar o segundo título de campeão – que viria a ser o último do FC Porto até esta data…

Vítor Pereira, de resto, repetia a gracinha. É que, já na época anterior, havia feito desfeita parecida às águias: aí, visitou a Luz à 21.a jornada somando os mesmos 49 pontos dos encarnados. Acabaria por vencer por 3-2, com uma exibição de luxo de James Rodríguez e o “tal” golo de Maicon que muita tinta fez correr. Assim que se apanhou na liderança, o FC Porto não mais a perdeu.

Há ainda o caso do Braga, que em 2009/10 liderou o campeonato durante vários meses, permanecendo no topo durante duas jornadas já alusivas à segunda volta – embora em igualdade pontual com o Benfica. As águias, entretanto, adiantaram o seu encontro da ronda 20, vencendo o União de Leiria na Luz por 3-0, e não mais saíram do primeiro lugar – até porque os bracarenses, quando chegou a altura de acertar o calendário, foram cilindrados… no Dragão (1-5).

Esta é a tendência: falta agora ver o que reserva, de facto, a reta final da Liga das surpresas 2016/17.